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setembro 30, 2011
Arte em trânsito por Fabio Cypriano, Folha de S. Paulo
Arte em trânsito
Matéria de Fabio Cypriano originalmente publicada na Ilustrada do jornal Folhe de S. Paulo em 30 de setembro de 2011.
Dinamarquês Olafur Eliasson inaugura obras em três espaços de SP e dialoga com locais de passagem
O dinamarquês Olafur Eliasson inaugura, hoje e amanhã, 11 obras em três espaços expositivos de São Paulo. Numa cidade marcada pela pressa, o artista pretende reduzir o ritmo frenético da metrópole ao modificar o comportamento do espectador em locais de passagem, como corredores ou pátios.
Em "Microscópio para São Paulo", por exemplo, espelhos foram instalados ao redor de uma das passarelas da Pinacoteca do Estado para refletir a imagem de quem passa por ali como se estivesse flutuando no céu da cidade.
"Esses espaços de trânsito costumam ser locais onde as expectativas se transformam, se viabilizam na prática e, por isso, gosto de ocupá-los", disse Eliasson à Folha, anteontem, logo após aterrissar na cidade para verificar a montagem de seus trabalhos.
NOVA FASE
"Seu Corpo da Obra" é o nome do conjunto de exposições do artista em São Paulo, que marcam um novo momento no 17º Festival Internacional de Arte Contemporânea Sesc Videobrasil.
"As dinâmicas e estratégias de Olafur têm a ver com essa nova fase, que é deixar de abordar só a linguagem do vídeo. Afinal, ele é um artista que lida com a arquitetura, a ciência e tantas outras áreas", diz Solange Farkas, diretora do festival. Com seus óculos de lentes grossas, barba e cabelos longos, Eliasson é o estereótipo do cientista maluco, cujos experimentos transformam a percepção das pessoas.
Isso pode ocorrer numa sala de leitura, onde ele instalou seis superluminárias espelhadas, ou na sala que Eliasson encheu de fumaça e chamou de "Seu Caminho Sentido", ambas no Sesc Pompeia. Na primeira instalação, as luminárias alocadas acima das mesas de leitura tornam público o que é privado ao permitir que se veja tudo que o vizinho está lendo.
A segunda, a mais espetacular da mostra, é uma espécie de experiência epifânica. Nela, o público perde o sentido de espaço ao se ver envolto numa bruma e é levado a caminhar, meio que às cegas, em direção a uma luz muito, mas muito intensa.
ARQUITETURA
"Nessas exposições, Olafur não trabalhou com obras como se elas ocupassem um cubo branco [como em espaços expositivos tradicionais]. Ele está lidando com o potencial que a arquitetura, de fato, sugere, ativando esses espaços", diz o curador das mostras, Jochen Volz. Um bom exemplo é a própria ocupação do Sesc Pompeia, projetado pela arquiteta Lina Bo Bardi (1914-1992).
Durante a montagem das obras de Eliasson, corredores falsos criados fora do projeto de Bardi precisaram ser destruídos e uma cascata original voltou a funcionar.
Eliasson ainda criou um projeto secreto, que dialoga com o espaço urbano (leia abaixo). Para um artista conhecido por obras espetaculares, como um sol na Tate londrina e cachoeiras de Nova York, sua passagem por São Paulo revela respeito e delicadeza com a cidade.
Artista espalha bicicletas com rodas de espelho pela cidade
Além de instalar 11 obras em três espaços de São Paulo, Olafur Eliasson está espalhando 12 bicicletas com rodas de espelhos pela cidade.
"Eu as vejo como anjos, as bicicletas estão por aí, criando uma narrativa pela cidade", conta o artista. A obra, "Uma Bicicleta para São Paulo", foi decidida na semana passada.
"Desde o começo, eu queria fazer uma obra pública, mas achei que poderia vir com uma visão muito europeia. Ao trabalhar com o [o cineasta brasileiro] Karim Aïnouz, fiquei empolgado e pedi a ele para ser meus olhos no trabalho", diz Eliasson.
Aïnouz produziu com Eliasson a obra "Sua Cidade Empática", em cartaz no Sesc Pompeia, que traz imagens captadas no Minhocão. É o cineasta quem decide onde instalar as bicicletas, mas a localização é segredo. Para 2012, Aïnouz prepara um documentário sobre Eliasson, composto por cenas gravadas dentro de cada obra das exposições.
Festival traz 101 artistas eleitos por edital
Dividido em dois eixos, o 17º Videobrasil apresenta, além de Olafur Eliasson, 101 artistas na mostra "Panoramas do Sul", uma exposição que tem um ritmo de bienal de artes.
A particularidade do festival, contudo, segue no formato de edital, ou seja, qualquer um pode se inscrever para passar por um processo seletivo. Em bienais isso nunca ocorre. O curador escolhe ele mesmo quem quer mostrar. "Seguimos esse modelo porque é a melhor forma de incluir artistas que ainda não fazem parte do circuito, o que dá um caráter especulativo e, portanto, de risco [ao festival]", conta Solange Farkas, diretora do Videobrasil.
Nesta edição, os 101 artistas foram escolhidos a partir de 1.295 inscrições, vindos de todas a regiões do sul do planeta. "Essa premissa representa o aspecto político da mostra. Talvez chegue o momento em que, assim como não vamos mais tratar de uma só linguagem, o vídeo, não precisemos mostrar apenas artistas do sul, mas essa vitrine ainda é necessária", diz Farkas.
Entre os destaques deste ano estão o australiano Shaun Gladwell, o libanês Akram Zaatari e a brasileira Cinthia Marcelle.