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setembro 28, 2011
Bienal de Lyon tem forte presença de brasileiros por Fabio Cypriano, Folha de S. Paulo
Bienal de Lyon tem forte presença de brasileiros
Matéria de Fabio Cypriano originalmente publicada na Ilustrada da Folha de S. Paulo em 26 de setembro de 2011.
A 11ª edição do evento reúne 77 artistas que operam noções distintas e complementares: construção e destruição
A primeira experiência, para quem entra na Sucrière, umas das quatro sedes da 11ª Bienal de Lyon, aberta ao público no último dia 15, na França, vem na sonoridade da obra da brasileira Lenora de Barros, "O
Encontro Entre Eco e Narciso", uma instalação com vozes e luzes, baseada na mitologia grega.
O ambiente de mistério, onde uma voz recita frases nem sempre compreensíveis, dá o tom da mostra, organizada pela argentina Victoria Noorthoorn, que já foi curadora da Bienal do Mercosul.
Intitulada "Uma Terrível Beleza Nasceu", a bienal de Noorthoorn, que segue até 31 de dezembro, reúne obras de 77 artistas operando com duas noções distintas, mas um tanto complementares: construção e destruição.
Esse conceito está presente, por exemplo, nos poemas do brasileiro Augusto de Campos estampados em dez paredes da exposição, revelando sua forte concepção estética e sua crítica ao uso tradicional da escrita.
A seleção de brasileiros, aliás, é generosa. São nove, onde predominam latino-americanos, africanos e artistas do Leste Europeu.
Ocupando quatro espaços, Noorthoorn deu a cada um características distintas. No Museu de Arte
Contemporânea de Lyon foram criados cinco pequenos percursos.
Em um deles, Cildo Meireles, com sua "A Bruxa", um cabo de vassoura de onde saem dois quilômetros de fios negros, invade e transforma as demais obras da sala.
"Uma Terrível Beleza Nasceu" é o tema do evento que, a partir desse nome, aborda o bizarro em suas várias formas, como o jardim neoclássico criado pelo argentino Jorge Macchi sob os detritos em frente a outro espaço da mostra, a fábrica T.A.S.E., um lugar que parece abandonado. Esse tipo de procedimento um tanto surreal permeia a montagem de forma coesa, apontando que a arte existe para criar conflitos.
Por isso, muitos trabalhos questionam o espaço expositivo, como o de Laura Lima, o "Puxador", que dá a um homem nu a impossível tarefa de mover as colunas do local. E o melhor, é uma bienal essencialmente política sem nada que seja literal.