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setembro 20, 2011
A Reinvenção da Paisagem por Mario Gioia, Bravo!
A Reinvenção da Paisagem
Matéria de Mario Gioia originalmente publicada no caderno de Artes Visuais da revista Bravo! em setembro de 2011.
As Bienais de Curitiba e do Mercosul têm por tradição revelar novos artistas. Entre eles, criadores que tratam de forma inovadora um gênero tradicional.
Dois eventos importantes do calendário das artes visuais do país passam a coincidir as datas a partir deste ano, tornando a região sul um ponto de encontro para apreciadores e colecionadores. Tanto a Bienal do Mercosul, que chega à oitava edição, quanto a VentoSul, mais conhecida como Bienal Internacional de Arte Contemporânea de Curitiba, na sexta edição, costumam apresentar artistas que prometem despontar no circuito em um futuro bem próximo. Entre os jovens nomes apontados pelas mostras neste ano, dois se destacam por indicar uma tendência forte na produção artística atual. Marcelo Moscheta e Marina Rheingantz, cada um a seu modo, reinventam o tradicional gênero da paisagem.
Nascido em São José do Rio Preto, no interior de São Paulo, Moscheta explora os mais diversos suportes: desenho, objeto, instalação, gravura, fotografia. E apesar de já desfrutar de grande prestígio em espaços mais tradicionais da arte – ele tem obras no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro e na Pinacoteca do Estado de São Paulo – ele prefere explorar lugares distantes dos grandes centros. Foi na fronteira entre o Rio Grande do Sul e o Uruguai que Moscheta concebeu o trabalho exposto agora na Bienal do Mercosul. O artista percorreu mais de 2,5 mil km coletando e catalogando rochas, marcando coordenadas, lavando as peças e pensando em como apresentar isso numa exposição. O resultado está em uma instalação que envolve as próprias pedras encontradas no caminho, desenhos de viagem e cartazes. “Essa experiência de viajar e conviver com entornos agrestes despertou o seu interesse em retratar a memória de um lugar, elaborando um procedimento de classificação similar ao arqueológico”, diz a chilena Alexia Tala, curadora adjunta da bienal.
Pintura de memória
Já Marina Rheingantz dedica-se à pintura, que usa como um diário de memórias pessoais. Seu estilo tem chamado a atenção de instituições – uma de suas grandes telas integra o acervo da Pinacoteca do Estado de São Paulo –, de colecionadores – há muita procura por seus quadros na galeria paulistana Fortes Vilaça – e de exposições coletivas importantes, caso da 6ª VentoSul. Paulista de Araraquara, Marina apresentará em Curitiba uma série de novas telas que remetem ao período em que morou no Chile, em 2005, e registram paisagens andinas. “Faço uma pintura de memória”, diz ela, que usa menos a fotografia como referência, se comparada a outros nomes elogiados de sua geração, como Ana Prata, Rodrigo Bivar e Rafael Carneiro. Todos eles renovaram em alguma medida a pintura nos últimos anos e foram notados pela crítica e pelo mercado.