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setembro 15, 2011
Museu de grandes novidades por Paula Alzugaray, Istoé
Museu de grandes novidades
Matéria de Paula Alzugaray originalmente publicada no caderno Artes Visuais da revista Istoé em 9 de setembro de 2011.
Em retrospectiva, Nelson Leirner apresenta trabalho surpreendente produzido durante o ócio
São toneladas de mickeys, patos donalds, gorilas, pokemons, pretos velhos, bolas de futebol e outros ícones-bugigangas da cultura de massa mundial. Eles se multiplicam à profusão, saltam de uma escultura para outra, investem contra telas, gravuras, instalações. Embora toda essa matéria visual seja organizada na forma de padrões repetitivos, a novidade e o ineditismo expressos na obra de Nelson Leirner são inesgotáveis. Surpresa e exclamação são as emoções proporcionadas pela retrospectiva “Nelson Leirner 2011-1961=50 anos”, em São Paulo, onde mais de 40 obras apresentam a capacidade de reinvenção permanente de Leirner.
A exposição começa com “Banca de Jornais” (2008), instalação que não deixa dúvidas sobre o caráter apropriacionista, colecionista e duchampiano da obra desse grande artista paulista. Posicionado no corredor de entrada da Galeria do Sesi, o quiosque expõe uma coleção de fascículos e revistas recheadas de brindes e quinquilharias. Além de configurar um “readymade” na melhor acepção do termo (principal estratégia artística de Marcel Duchamp, em que eleva o objeto banal ao cerne da obra de arte), a banca é uma representação simbólica do grande intuito de Nelson Leirner: perguntar “o que é arte”.
Com curadoria de Agnaldo Farias, a mostra avança com pujança, dividindo a obra em três fases: os primeiros anos, a maturidade que o artista alcança com uma obra polimórfica e o grande desfecho, com a instalação inédita “Hobby – Um Nenhum Cem Mil” (2011). O trabalho foi realizado, literalmente, na forma de um hobby: cada um dos cartões que compõem a instalação foi produzido em momentos de ócio e intervalos do oficio artístico. “Sempre falo para mim: preciso colecionar alguma coisa e parar de fazer arte. Não consigo encontrar alguma coisa para fazer. A não ser a coleção que eu fiz do “Hobby”, que para mim não era arte, não tinha essa intenção”, diz Nelson Leirner. O resultado é simplesmente um de seus melhores trabalhos.