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setembro 15, 2011
Romântico, com peso por Nina Gazire, Istoé
Romântico, com peso
Matéria de Nina Gazire originalmente publicada no caderno Artes Visuais da revista Istoé em 2 de setembro de 2011.
O pintor Rodrigo Andrade resgata o elemento soturno do romantismo, em imagens noturnas e muita densidade de tintas
Recuperar a tradição figurativa da pintura romântica em pleno século XXI. Esse foi, em parte, o objetivo do pintor Rodrigo Andrade na sua série de paisagens noturnas denominada “Velha Ponte de Pedra e Outras Pinturas”. O artista apresenta oito obras inéditas, dando continuidade à temática iniciada com a série “Matéria Noturna”, apresentada na 29ª Bienal de São Paulo. “São cenas ou, talvez, situações atemporais por serem imagens de pontes velhas. As pontes são muito pitorescas e propícias para a pintura. São temas supertradicionais e ao mesmo tempo muito vulgares. Você encontra em diferentes períodos da pintura, principalmente no romantismo”, explica.
Para pintar as pontes de pedra, fotografadas durante uma viagem à Escócia, Andrade resolveu fazer também sua própria ponte entre duas tradições distintas da figuração ao unir fotografia e pintura na produção das imagens. Depois de projetar fotografias das pontes sobre as telas de grandes dimensões – algumas com até quatro metros de comprimento –, o artista criava uma máscara com a imagem da foto, onde posteriormente aplicava a tinta a óleo. Essa técnica dá ao trabalho uma consistência material significativa, que transparece nas paisagens. Cada tela possui imponentes 50 quilos de tinta. “Nessas pinturas acontece esse movimento duplo: a perspectiva e a ilusão do figurativo te levam para dentro, enquanto a materialidade te expulsa do espaço da pintura”, comenta Rodrigo Andrade, que também compara as cenas noturnas às mise-en-scènes dos filmes de David Lynch. “Resgato essa ilusão do cinema dando uma espacialidade interna ao trabalho. Elas parecem um filme do David Lynch por causa do aspecto soturno e escuro das imagens”, diz o artista, que começou a trajetória nos anos 80 com uma linguagem expressionista, e passou boa parte dos anos 2000 envolvido em uma pesquisa com o peso e a presença matérica das tintas no espaço.