|
setembro 14, 2011
Artista fará pintura que brilha no escuro sob viaduto no bairro de Parnamirim, Diário de Pernambuco
Artista fará pintura que brilha no escuro sob viaduto no bairro de Parnamirim
Matéria originalmente publicada na seção de Cultura do Jornal Diário de Pernambuco em 12 de setembro de 2011.
A artista plástica Fran Junqueira, do Rio de Janeiro, está no Recife para participar do Spa das Artes, evento promovido pela Prefeitura que espalha trabalhos artísticos em espaços públicos da cidade. Nesta terça e na quarta, a partir das 10h da manhã, ela simulará uma espécie de moradia temporária embaixo da Ponte do Vintén, o viaduto que atravessa o Rio Capibaribe entre a Torre (na altura do supermercado Carrefour) e Parnamirim (perto do Plaza Shopping).
A artista usa pintura e desenho para instalar silhuetas de móveis antigos na área abaixo do viaduto-ponte, em uma reflexão sobre a moradia, já que os sem-teto costumam ocupar esses espaços. A área a ser ocupada por Fran fica na Rua Leonardo Bezerra Cavalcanti, por trás do Plaza Shopping, em frente à Vila do Vintém e ao lado do Museu Murillo La Greca. O título é Estrelas porque a tinta usada é fluorescente e brilhará à noite.
Sobre sua obra, Fran Junqueira explica que: "Tendo a crer que o Eu é a interseção entre mim e todos os entes do mundo e o que me interessa é justamente esse espaço de ligação e as fronteiras fictícias que acreditamos nos delimitarem do Outro. A Rua, por sua vez, é o outro e a casa somos nós e é no trânsito entre essa fixidez ilusória que mora meu foco, nesse jogo de esconder e mostrar, talvez como o tal círculo formado por linhas retas".
Também nesta terça, os artistas Sara Labranho (MG) e Geraldo Zamproni (PR) apresentam trabalhos no Parque Dona Lindu. O paranaense cria um zíper para unir estruturas de concreto. A mineira apresenta um vídeo onde apaga letras de uma frase encontrada na rua para alterar seu sentido original.
Na programação paralela do Spa, a galeria Mau Mau, no bairro do Espinheiro (Rua Nicarágua, 173), promove a terceira edição do Spam das Artes, com uma lojinha de objetos e produtos artísticos (camisas, DVDs, quadros, carimbos, livros, etc), uma oficina de serigrafia e uma viodeoinstalação da artista Lia Leícia. às 20h, o artista Paulo do Ampro faz show de "voz. vioão e violência".
No Museu Murillo La Greca, o público vê a exposição colaborativa da feira de arte contemporânea Desvenda (RS), com trabalhos de diversos artistas (clique aqui para ver imagens). No galpão localizado atrás do prédio, está o acervo de moda vintage da dupla Duas Caróis (a estilista Carol Azevedo e a produtora Carol Monteiro).
Leia texto sobre o trabalho de Zamproni, escrito pelo curador Cauê Alves:
Nelson Leirner, em 1967, realizou a série Homenagem a Fontana, que consistia em telas rasgadas que poderiam ser fechadas e reabertas com zíper. O título era uma fina ironia em relação ao gesto agressivo e romântico do pintor ítalo-argentino. Leirner permitia que o gesto de Fontana fosse refeito de modo anônimo, repetitivo e sem qualquer heroísmo. Zamproni, que não por acaso é formado em arquitetura, amplia essa possibilidade para o campo tridimensional, mesmo que seu trabalho se volte para outras questões. Até mesmo o jardim, que pressupõe certo período para que as raízes se fixem e as folhas cresçam passa a ser fugaz e portátil. O paisagismo é tratado pelo artista de modo tão prático que coloca em xeque a naturalidade das plantas. A velocidade com que se fecha e abre um zíper torna-se a mesma com que se faz e desfaz um jardim. Além de reaproximar a escala da arquitetura da escala do corpo humano, é como se no trabalho de Geraldo Zamproni tudo o que é essencial num edifício ou paisagem fosse também volátil.