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setembro 12, 2011
Oitava Bienal do Mercosul reúne "agressões" às bandeiras por Silas Martí, Folha de S. Paulo
Oitava Bienal do Mercosul reúne "agressões" às bandeiras
Matéria de Silas Martí originalmente publicada na Ilustrada do jornal Folha de S. Paulo em 10 de setembro de 2011.
Evento em Porto Alegre começa com orçamento de R$ 12,5 milhões
Um batalhão de formigas devastou campos de areia tingida e chegou ao centro da bandeira brasileira, embaralhando ordem e progresso.
Na Bienal do Mercosul, que começa hoje em Porto Alegre, nações são arremedos de ícones e símbolos vazios.
Pelo menos a colônia de formigas morando nas bandeiras de areia do japonês Yanagi Yukinori dá conta desse estado incerto das coisas.
Tendo a mostra o nome de um tratado comercial até hoje capenga, nada mais natural do que discutir territórios em frangalhos no meio da crise econômica que assola o mundo desenvolvido.
A oitava edição tem o maior orçamento até agora, R$ 12,5 milhões. Se não traz os medalhões do mercado, se consolidou como vitrine de artistas emergentes.
"É o momento para perguntar o que é uma nação, que conflitos envolve, o que é um Estado nacional", resume o colombiano José Roca, curador da mostra. "Não queríamos fazer a bienal das bandeiras, mas era inevitável."
Tanto que elas estão por toda parte. Leslie Shows, americana, abre a mostra com uma série de bandeiras esvaziadas de cor, panos brancos com poças de tinta a seus pés.
Francis Alÿs exibe uma intervenção sobre a bandeira do México, país que o artista belga adotou há décadas.
Estendendo a agressão às bandeiras, a paraguaia Paola Parcerisa destrói uma de seu país, sobrando só um brasão flutuando em meio a contornos vazios. Luis Romero, venezuelano, tinge tudo de preto, deixando só alguns símbolos em branco numa série de bandeiras.
Mais sofisticados, os trabalhos da britânica Melanie Smith e do espanhol Santiago Sierra levam essa questão a outro patamar. Ela mostra crianças segurando fragmentos de imagens icônicas da história do México na arquibancada do estádio Azteca, na capital do país.
Desenhos se formam e se perdem com rapidez assustadora, denunciando como a cultura pode ser subordinada à política. Sem imagens, Sierra criou uma cacofonia no jardim do palácio Piratini, sede do Executivo gaúcho, com megafones tocando hinos dos países do Mercosul.
Nesse concerto de nações, sobressaem o caos e uma ideia difusa de nacionalidade em tempos de revolução e crise.