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setembro 6, 2011
Vitrine de arte por Catharina Wrede e Cristina Tardáguila, O Globo
Vitrine de arte
Matéria de Catharina Wrede e Cristina Tardáguila originalmente publicada no caderno Cultura do jornal O Globo em 6 de setembro de 2011.
Com 83 galerias do Brasil e do mundo, a ArtRio começa nesta quarta-feira no Píer Mauá disposta a atrair 20 mil pessoas e vender R$ 100 milhões
RIO - A ambição é grande: reunir 700 obras de arte e 83 galerias do Brasil e do mundo às margens da Baía de Guanabara para tentar inserir o Rio, de uma vez por todas, no mapa do concorrido mercado mundial de arte. Assim nasce a ArtRio, a primeira feira internacional de arte contemporânea da cidade, nos armazéns 2 e 3 do Píer Mauá. Com abertura amanhã às 14h, para convidados, e quinta, para o público, a feira vai funcionar de 12h às 20h, até domingo, com entrada a R$ 30 (inteira).
- Esta é a edição número um. Não temos um modelo anterior para ajustar, mas visito feiras há 15 anos e, nelas, sempre mantive o olhar crítico de quem toda a vida sonhou montar uma feira própria, no Rio - diz a curadora e responsável pelo evento Elisangela Valadares.
Há dois anos, Elisangela uniu-se à amiga e também curadora de arte Brenda Valansi Osorio para pôr de pé a primeira edição da ArtRio, que desde o início se pretendia grande. Há três meses, as duas receberam o reforço de uma dupla carioca especializada em entretenimento: os empresários Luiz Calainho e Alexandre Accioly.
- A arte é entretenimento - defende Calainho. - Em cinco anos, a ArtRio estará entre as três maiores do planeta - aposta.
Em cinco dias, os organizadores esperam ver circulando pelo Píer Mauá 20 mil pessoas e não escondem: pretendem vender cerca de R$ 100 milhões.
- Teremos obras que custam entre R$ 1 mil e R$ 1 milhão. É uma boa oportunidade pra quem quer começar uma coleção - diz Brenda. - Na ArtRio, tudo o que estiver exposto já passou por um crivo cuidadoso de profissionais. Lá, o visitante poderá ter a certeza de que está diante de obras de qualidade.
A ArtRio conta com a participação das principais galerias da cidade. A Pinakotheke Cultural, por exemplo, terá uma cerâmica de Picasso; a Anita Schwartz, obras de Nuno Ramos e Gustavo Speridião, entre outros; a Silvia Cintra + Box 4, de Miguel Rio Branco; e a Lurixs, de José Bechara. Já a Mul.ti.plo levará alguns dos trabalhos mais acessíveis do evento, como "Zero dollar", de Cildo Meirelles, no valor de R$ 5 mil.
Importantes endereços de São Paulo também marcam presença. A Galeria Vermelho trará obras de Rosangela Rennó, entre outros; a Nara Roesler, de Carlito Carvalhosa, Hélio Oiticica e O Grivo; e a Ricardo Camargo, a obra mais cara da ArtRio: "Fortaleza de Arkadin", de Wesley Duke Lee, avaliada em R$ 1,5 milhão.
De fora do país, vêm galerias de Lisboa (Filomena Soares), Nova York (Magnan Metz), Berlim (Crone) e Paris (Hussenot Gallery), além de Argentina, México, Peru, Espanha e Austrália.
Além dos estandes de cada galeria, o evento terá um espaço (Solo Projects) destinado a dez artistas, nacionais e estrangeiros, especialmente selecionados por Julieta Gonzalez, da Tate Modern, e Pablo Leon de La Barra, que atua hoje em Londres. A programação conta ainda com palestras e mostras de vídeos e cinema, no próprio Cais e no Cine Joia, em Copacabana.
Ao mesmo tempo em que as expectativas são altas, a ArtRio precisa vencer uma prova de fogo para se consolidar como um evento que merece atenção. Exemplo disso são os olhares, curiosos mas ainda reticentes, com que representantes de algumas grandes galerias pretendem circular pela feira.
Nesse grupo de "olheiros" estará o inglês Paul Jenkins , há dez meses na cidade representando o americano Lawrence "Larry" Gagosian, dono da maior rede de galerias do mundo.
- Não estou autorizado a comprar nada nesta edição da ArtRio - diz. - Meu objetivo é apenas ver como a feira funciona, como foi organizada e se as pessoas estão mesmo comprando. Isso não quer dizer, no entanto, que não participaremos do evento mais para a frente. A Gagosian Gallery tem por filosofia não fazer parte do primeiro ano de nenhuma feira. Primeiro apreciamos o evento e, só depois, entramos nele. Em Hong Kong, por exemplo, foram quatro ou cinco anos de observação.
Jenkins está otimista em relação ao futuro da ArtRio. Pelo que viu até agora, acha que o evento está bem estruturado e que tem potencial para se firmar como uma espécie de Miami Basel, feira de arte que acontece em Miami há 41 anos. Mas já notou peculiaridades:
- A ArtRio faz propaganda no rádio - observa o "olheiro". - Isso a diferencia de outras feiras que conheço mundo afora, mas tudo bem. Os organizadores querem mesmo que ela pegue, que seja popular.