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setembro 6, 2011
Mostra revela cartas de Franz Weissmann por Gabriela Longman, Folha de S. Paulo
Mostra revela cartas de Franz Weissmann
Matéria de Gabriela Longman originalmente publicada na Ilustrada do jornal Folha de S. Paulo em 6 de setembro de 2011.
Correspondência inédita do escultor filiado ao neoconcretismo exibe bastidores artísticos e políticos dos anos 60
Artista plástico completaria cem anos no dia 15; Pinakotheke inaugura exposição retrospectiva no Rio
"Franz, se aí está muito chato, volta! Viajar demais cansa (...) Afinal o mundo é todo igual! Vigaristas e anjos por todo lado. Um grande abraço da amiga de sempre Lygia Pape."
Se estivesse vivo, o escultor neoconcreto Franz Weissmann (1911-2005) completaria cem anos no próximo dia 15. Ontem, a Pinakotheke do Rio inaugurou em sua homenagem uma retrospectiva com mais de 90 esculturas -colunas, esculturas em aço ou o famoso "Cubo Vazado", exibido na Bienal de 1953.
Mas, para além das obras, a exposição traz à tona, em seu catálogo, uma série de cartas inéditas trocadas entre Weissmann e amigos da cena artística e intelectual, em especial durante o período em que o escultor viveu na Europa, de 1959 a 1965. Natural de Knittelfeld, na Áustria, Weissmann chegou ao Brasil ainda criança. Em 1959, foi um dos signatários do Manifesto Neoconcreto.
"Comecei a montar a exposição e sabia que essa correspondência tinha que estar em algum lugar. Até que a família achou, num fundo de gaveta, a caixa fechada, coberta de pó. Passei a noite em claro debruçado sobre o material", contou à Folha o curador e diretor da Pinakotheke, Max Perlingeiro.
Na caligrafia, às vezes difícil de decifrar, ele encontrou a cumplicidade entre Weissmann e o crítico Mário Pedrosa; entre Weissmann e o poeta João Cabral de Melo Neto; e as confissões de Lygia Clark e Lygia Pape, companheiras da cena neoconcreta. Ali, falam das idas e vindas do meio artístico e das particularidades do mercado naquele momento. "O Krascheberg parece que vendeu pouquíssimo, ouvi dizer. O José de Carvalho está vendendo arte a prestações e parece que isso está prejudicando outros marchands", escreve Lygia Clark.
DIFICULDADES
Como professor, Weissmann formou uma geração que tem em Amilcar de Castro e Mary Vieira dois de seus expoentes, mas suas obras estavam longe de valer o que valem hoje. "Havia poucas galerias e todos eles sofriam de falta de dinheiro; Clark estava começando a fazer os 'Bichos'", lembra o curador.
As dificuldades se fazem visíveis no fim de uma carta de João Cabral: "Se precisar de dinheiro urgente me escreva. Não tenho dinheiro nem mulher. [...] Mas para salvar um amigo de apertos, sempre se arranja alguma coisa". A correspondência tem como pano de fundo a cena política anterior ao golpe militar. "As coisas andam feias por aqui", antecipa carta de Pape, de 1961.
FRANZ WEISSMANN
QUANDO: seg. a sex., das 10h às 18h; sáb., das 10h às 16h; até 3/12
ONDE: Pinakotheke Cultural (r. São Clemente, 300, Botafogo, tel. 0/xx/21/2537-7566)
QUANTO: grátis