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agosto 30, 2011
Mostra faz leitura complexa do sexo na sociedade por Fabio Cypriano, Folha de S. Paulo
Mostra faz leitura complexa do sexo na sociedade
Matéria de Fabio Cypriano originalmente publicada na Ilustrada do jornal Folha de S. Paulo em 27 de agosto de 2011.
Destaque é obra de Dora Longo Bahia que se apropria de repertório do cinema para criar narrativa épico-erótica
Poucos assuntos dominam tanto a sociedade contemporânea como o sexo. Por isso não é estranho que artistas contemporâneos se voltem a esse tema de forma tão contundente e explícita como na mostra "Destricted.br", em cartaz até hoje no Galpão Fortes Vilaça, na Barra Funda.
A exposição deriva do projeto "Destricted", lançado em 2006, que compila sete curtas de artistas estrangeiros, como Marina Abramovic e Matthew Barney, exibidos em salas de cinema e depois vendidos em DVD.
A versão brasileira reúne nove artistas, entre eles Adriana Varejão, Dora Longo Bahia, Karim Aïnouz, Miguel Rio Branco e Tunga, todos com filmes na mostra, além de obras em outros suportes, como desenhos, pinturas e esculturas.
As abordagens são muito distintas, e o panorama é amplo: sexo gay, sexo grupal, sexo na meia-idade, sexo pago.
Em algumas obras, predomina o caráter documental, como na ótima "Ponto de Vista", de Janaina Tschäpe, em que a artista instala uma câmera na cabeça de uma mulher que "fica" com três rapazes, posicionando na mulher o olhar do prazer, ao contrário das manjadas cenas de filmes da indústria pornô.
Outros, como "Cooking", de Tunga, e "Psinoe", de Adriana Varejão, incorporam o sexo a seus próprios repertórios imagéticos, como uma sereia numa piscina, espaço retratado por Varejão em várias de suas pinturas.
Contudo está em "petit a", de Longo Bahia, o grande momento de "Destricted.br". A artista se apropria de um imenso repertório visual do cinema, de filmes como "Laranja Mecânica", de Stanley Kubrick, ou "Veludo Azul", de David Lynch, para criar uma narrativa épico-erótica, com personagens bizarros.
Além do filme, desenhos da artista sobre páginas do livro "Flores do Mal", de Baudelaire, são apresentados e revelam todas as suas referências para a produção.
Aí condensa-se o que representou o primeiro "Destricted": uma leitura complexa dos caminhos que o sexo representa na sociedade.
Se nem todas as obras na versão nacional alcançaram esse nível, é porque ficaram apenas no sexo explícito e isso, convenhamos, está mais que disponível na internet.