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agosto 26, 2011
O pomo da discórdia por Silas Martí, Folha de S. Paulo
O pomo da discórdia
Matéria de Silas Martí originalmente publicada no caderno Ilustrada do jornal Folha de S. Paulo em 26 de agosto de 2011.
Após impasse, governo quer nova Pinacoteca no antigo Detran
Impasses nas negociações têm levado USP e governo de São Paulo a aceitar que o Museu de Arte Contemporânea da universidade, com 9.000 obras num dos acervos mais importantes do país, já não vá mais para o antigo prédio do Detran, no Ibirapuera.
É mais provável agora que o prédio seja destinado a uma segunda sede da Pinacoteca do Estado, que teria ali um espaço para sua coleção de obras contemporâneas. "Temos um projeto da Pinacoteca Contemporânea", disse Andrea Matarazzo, secretário estadual da Cultura, à Folha. "É uma possibilidade."
Depois que a Secretaria de Estado da Cultura gastou R$ 76 milhões na adaptação do espaço para receber o MAC, em obras que se arrastam há três anos, a reitoria da USP admite pensar em desistir da mudança da instituição por "problemas profundos". No caso, o reitor, João Grandino Rodas, briga para que o governo evite a construção do Clube das Arcadas, projeto do centro acadêmico da Faculdade de Direito da USP, no terreno vizinho.
Ele acredita que o museu seria prejudicado pela proximidade com um empreendimento privado que venderia títulos aos sócios e, portanto, tiraria proveito indevido da imagem do MAC-USP.
Em texto divulgado na semana passada no boletim interno da reitoria e depois enviado a Matarazzo, Rodas também levanta questões sobre a legalidade do complexo a ser construído pelo centro acadêmico e dá um ultimato ao governo do Estado.
"Somente quando tal empreendimento for esclarecido, a USP assinará convênio visando à instalação do MAC no Ibirapuera", escreveu. À Folha o reitor não quis falar em prazos para a mudança. "Isso não pode ser feito a qualquer preço", disse Rodas. "Em se mantendo problemas profundos, é melhor que o MAC fique onde está [na Cidade Universitária]."
Segundo Matarazzo, o reitor "errou o destinatário" de sua carta, já que não cabe ao governo resolver as questões levantadas a respeito do futuro Clube das Arcadas, obra orçada em R$ 40 milhões.
"Não estou nem otimista nem pessimista, mas realista", diz Matarazzo. "Pusemos um esforço imenso, financeiro e intelectual, para deixar a obra adequada. O prédio não vai ficar vazio, tem fila de gente querendo o lugar."
Além do problema do clube vizinho, USP e governo não chegaram a um acordo sobre quem pagaria as contas do MAC uma vez que o museu fosse para o Detran.
Enquanto a USP pedia um repasse de R$ 18 milhões por ano, o governo calculou um custo de R$ 10 milhões e discordava de bancar a despesa, acreditando que a USP tem condições de custeá-la.
REDUÇÃO NA LUZ
Ao mesmo tempo em que se agrava a situação do MAC, a Secretaria de Estado da Cultura admitiu redução no tamanho do Teatro da Dança e do complexo projetado na Luz pelos suíços Jacques Herzog e Pierre de Meuron.
Segundo Matarazzo, houve uma redução de 30% da área construída, que foi de 101 mil m2 para 71 mil m2.
Matarazzo reconheceu também que, em relação ao projeto original, foi descartada a construção de uma fábrica de cenários no complexo. Ele nega, no entanto, que a mudança tenha a ver com questões orçamentárias, dizendo que os próprios arquitetos decidiram recuar a construção no lote para ter mais área verde no entorno.