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agosto 24, 2011
Retratos do ofício artístico por Marcos Robério, O Povo
Retratos do ofício artístico
Matéria de Marcos Robério originalmente publicada no caderno Vida e Arte do jornal O Povo em 24 de agosto de 2011.
Abordando os próprios artistas e evidenciando a riqueza da pintura cearense, a mostra Diálogos Fernando França será aberta hoje no Centro Dragão do Mar
Artistas plásticos estão acostumados a pintar sua impressão de mundo. Colocam na tela aquilo que seu olhar apurado apreende ou a mente imagina e, através da reunião de cores e traços, constroem uma significação de possibilidades diversas. Mas qual a imagem que nós temos dos artistas? Será que a figura deles próprios em seu ofício de arte não seria também digna de um belo quadro? Foi reconhecendo em cada pintor um ser cheio de beleza e riqueza de significados que o artista plástico Fernando França materializou a ideia da exposição Diálogos Fernando França, que entra em cartaz hoje (24), no Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura.
A mostra reúne 23 grandes telas, cada uma delas com um retrato de um artista plástico cearense, pintados por Fernando França. A ideia surgiu em 2006, quando Fernando estava fazendo uma residência artística na França. O distanciamento de sua terra e de seus amigos provocou no artista a nostalgia seguida de uma visão mais clara de seu núcleo, sua realidade e seu lugar no mundo. “Quando você está fora do seu espaço, passa a ter uma visão mais clara do seu lugar”, explica Fernando. Ele compara essa percepção a uma tela impressionista, que é constituída por inúmeros pequenos pontos e, quando nos afastamos, podemos visualizar melhor a imagem formada pelos pontos.
Rememorando o ambiente artístico do qual já faz parte há mais de 20 anos, Fernando penetrou nos aspectos que constituíram sua própria identidade enquanto pessoa e artista. A intenção, segundo ele, foi fazer um recorte do panorama atual da pintura cearense, valorizando a “diversidade pictórica do Ceará e sua inquestionável qualidade”. Além disso, os quadros foram pensados também como uma forma de diálogo entre esses artistas, sendo que Fernando pintava os retratos e deixava um espaço para que os próprios retratados interferissem na tela, em uma espécie de balão inspirado nas histórias em quadrinhos. “Quis fazer a imagem do artista e do trabalho dele dentro do mesmo quadro, uma metalinguagem, como se fosse um quadro dentro do outro”, comenta Fernando.
Assim, ao longo de cinco anos, foram sendo postos na tela os retratos dos mais célebres pintores cearenses da atualidade, como Zé Tarcísio, Hélio Rôla e Nilo de Brito Firmeza, o Estrigas. Mais do que promover o diálogo artístico, Fernando explica que por trás da exposição está a vontade de fazer uma grande homenagem aos artistas, que muitas vezes não têm seu talento e importância reconhecidos como deveriam. “Por isso somos nós artistas que temos que valorizar mais a nossa cultura, nossa produção”, conclama.
Durante a abertura da exposição, será lançado também um documentário e um livro homônimo, editado a partir de edital da Secretaria de Cultura do Ceará (Secult) e que traz pinturas e descrições sobre o processo que culminou na exposição.