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agosto 15, 2011
Mostra destaca obra abstrata de Ianelli por Silas Martí, Folha de S. Paulo
Mostra destaca obra abstrata de Ianelli
Matéria de Silas Martí originalmente publicada no caderno Ilustrada do jornal Folha de S. Paulo em 13 agosto de 2011.
Retrospectiva exibe evolução da obra do artista morto há dois anos, da figuração aos experimentos abstratos
Cerca de 40 telas, entre elas 13 de seu espólio, fazem parte de exposição no Museu de Arte Brasileira da Faap
Na rota da abstração, Arcangelo Ianelli despiu o mundo de seus contornos. Encontrou na vibração silenciosa da cor uma forma de exacerbar a harmonia e afogar qualquer impulso mais rebelde.
Dois anos depois de sua morte, aos 86, uma retrospectiva no Museu de Arte Brasileira da Faap revisita agora a trajetória discreta, não menor, do artista conhecido como um mestre do abstrato.
Mas suas telas não prescindem da forma física, da verossimilhança. Operam num plano reduzido, da essência. Na mostra, desenhos em carvão e depois paisagens convencionais, obras dos anos 40, acabam sendo diluídas na passagem dos 50 para os 60 em quase abstrações.
Um geometrismo latente começa a subverter a forma reconhecível. "Barcos a Vela", de 1957, é uma sucessão de manchas mais cruas, como se fosse vaga lembrança do assunto real do quadro.
Ianelli radicalizou esse registro no mesmo ano, pintando uma marinha em que céu e mar se fundem num fiapo de paisagem -não a praia, mas o mormaço, de cinzas e azuis profundos ou celestes.
Nas primeiras abstrações, ele parece mensurar o peso da cor, trabalha o acúmulo da tinta como se buscasse uma vibração escondida no objeto do quadro, uma luminosidade concreta capaz de expressar mais que linhas e formas mais bem definidas.
Mais tarde, no começo dos anos 60, Ianelli chamou um de seus quadros de "Transição", uma espécie de adeus ao peso opressor e abertura de uma fase de composições mais diáfanas, de cor pura.
Talvez sejam essas as abstrações reais, sem qualquer lastro de realidade. Nos experimentos com guache e depois pastel, nos anos 70, sua obra perde de vez essa âncora, abrindo espaço para as serigrafias da última década.
E, nesses últimos anos de vida, Ianelli se fixou como colorista disciplinado, alheio aos desarranjos do mundo.