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agosto 9, 2011
Cidade tridimensional por Ana Cecília Soares, Diário do Nordeste
Cidade tridimensional
Matéria de Ana Cecília Soares originalmente publicada no Caderno 3 do jornal Diário do Nordeste em 9 de agosto de 2011.
O artista visual Erickson Britto inaugura, amanhã, às 19 horas, a exposição "A arte e a cidade", na sala Multiuso, no Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura
Ainda menino em João Pessoa, sua cidade natal, o artista visual Erickson Britto teve uma experiência fantástica que selaria o interesse futuro pelo mundo das artes. A partir de uma vista aérea, ao subir no edifício mais alto da cidade, o menino emocionou-se com o traçado das ruas, placas sinalizadoras, casas, praças e blocos compactos de telhados distribuídos pelo corpo da capital paraibana. Sim, era o início do amor pela geometrização dos objetos. Amor pelas formas escultóricas.
Passados 18 anos dessa experiência de infância, Erickson Britto potencializou o caminho de sua poética, ativando um mecanismo de observação da tridimensionalidade e a percepção da volumetria dos equipamentos urbanos das cidades por onde tem viajado.
Joias e esculturas
O artista começou sua carreira desenhando e produzindo joias que mais tarde o levariam às esculturas. "Foi uma longa trajetória como designer de joias. Morei em Recife por 16 anos, lá trabalhei e conheci outros artistas, foi um período muito importante de aprendizagem. Também tive contato com a herança portuguesa na joalheria, trabalhei com o ouro e a prata. Aprendi a manipular o metal e a exercitar a liberdade criativa. Depois percebi que era preciso atuar num corpo maior, então, veio o desejo pelo campo escultórico", explica.
Com 30 anos de carreira, atuando como escultor e designer, Erickson construiu uma linguagem própria, muito próxima da tradição construtivista brasileira, dialogando com a tridimensionalidade da estrutura moldada pela percepção que ele tem do espaço.
Exposição
Numa espécie de retrospectiva desses anos dedicados a arte, ele abrirá, a partir de amanhã, a exposição "A arte e a cidade", na sala Multiuso do Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura, na Praia de Iracema.
Com curadoria de Vera Barros, a individual reúne cerca de 30 trabalhos, entre esculturas, maquetes de obras públicas, objetos, joias e obras de diversos períodos do artista que se encontram e se complementam.
A mostra estimula o visitante a explorar várias possibilidades de observação de cada trabalho, com base numa aproximação dos princípios da Gestalt (teoria psicológica relacionada ao estudo da percepção), a partir do deslocamento do ponto de observação, explorando os ângulos como partes, em contradição à soma do todo.
Segundo o artista, esse deslocamento alegórico do olhar permite o contato com uma nova realidade visual, trazendo um diálogo que muitas vezes encontra respaldo conceitual quando levado para as questões pessoais do observador.
Influências
Britto também busca trazer para sua pesquisa artística questões referentes ao equilíbrio, transparência e opacidade, tão presentes no percurso de artistas como Franz Weismann, cujos espaços vazios se tornaram concretos. Além disso, ele considera elementos, como as linhas inflexíveis e maleáveis ao olhar, presentes nas obras monumentais do escultor Richard Serra, que sugerem um novo ponto de equilíbrio.
Serra, inclusive, trabalha com peças que pesam toneladas e possuem autossustentação. Em suas obras não há pregos, amarras ao chão, fundações ou outros meios para manter as esculturas estáveis. Apenas a gravidade aplicada à massa do aço somados a cálculos precisos fazem tais estruturas manterem-se em pé, muitas vezes, sendo curvadas e inclinadas em ângulos surpreendentes.
Outros aspectos que servem de referências ao trabalho de Erickson Britto é a economia de formas e a simplicidade do minimalismo proposto por Donald Judd; e o corte, recorte e dobras nas questões trazidas pela poética de Amilcar de Castro, onde o corte não é adereço, mas estrutural. "Eu sempre tenho a sensação, no momento da criação, de que todo projeto executado é sempre um protótipo de algo maior, para um espaço mais democrático, para o público que circula nas cidades", conclui o artista visual.
Fique por dentro
Perfil do artista
Natural de João Pessoa (PB), o escultor Erickson Britto, por meio de sua observação da cidade, iniciou uma pesquisa como designer de joias, ampliando, posteriormente, sua percepção e expressão artística para o universo escultórico. É nesse momento que nascem as primeiras esculturas sob forma de pequenos troféus em prata, aço e outros materiais, que evoluem em suas formas e dimensões e invadem espaços, ambientes e cidades. O artista foi aprovado, recentemente, no Mestrado em Poéticas Visuais na Universidade Federal da Baia (Ufba), onde busca aprofundar sua poética visual. "Todas essas inquietações me levam à necessidade de uma compreensão mais profunda sobre a minha própria produção", destaca Erickson Britto.
MAIS INFORMAÇÕES
Abertura da exposição "A arte e a cidade", de Erickson Britto, amanhã, às 19h, no Centro Dragão do Mar. Contato: (85) 3488. 8596.