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agosto 1, 2011
Artistas reinventam formato clássico dos livros em mostra por Silas Martí, Folha de S. Paulo
Artistas reinventam formato clássico dos livros em mostra
Matéria de Silas Martí originalmente publicada na Ilustrada do jornal Folha de S. Paulo em 30 de julho de 2011.
Exposição no Museu Lasar Segall destaca volumes conceituais
Livro é um conceito elástico na visão de alguns artistas. Vai além de páginas encadernadas entre duas capas para abraçar cidades inteiras, mundos ou mesmo oceanos.
Na mostra que abre hoje no Museu Lasar Segall, a forma clássica do livro é interrogada, distorcida e ampliada. Em certos casos, parte da subversão de seu conteúdo. Noutros, é a reavaliação de sua estrutura física, ou seja, questiona as margens, lombadas, folhas de rosto e afins.
Jorge Macchi cria rotas por Buenos Aires usando como base um guia da cidade. Mas ele não segue um roteiro fixo, prefere quebrar um vidro sobre a página e se guiar pelas linhas que aparecem ao acaso, marcas dos estilhaços.
Esse mesmo artista também desfaz um caderno de partituras. Na sucessão de páginas, as linhas das notas musicais vão subindo e se acumulam no topo da última folha, como se embaralhassem uma canção possível.
Lúcia Mindlin Loeb arrasta o andar da narrativa criando um volume só de guardas dos livros que encontrou na coleção de seu avô, o bibliófilo José Mindlin. "É uma história que não sai desse começo", observa a curadora da mostra, Ana Luiza Fonseca.
Na mesma pegada, Edith Derdyk faz um catálogo de frestas dos livros, fotografias de páginas amontoadas e detalhes da encadernação.
Essa natureza indevassável do livro ressurge nos trabalhos de Marcius Galan, Marilá Dardot e Odires Mlászho.
Enquanto Galan e Mlászho criam invólucros solipsistas, de capas e lombadas que abraçam todas as páginas sem deixar nenhuma à vista, Dardot une dois volumes por páginas alongadas, como uma espécie de ponte entre dois livros impossíveis de ler.
É o que ela chama de "Terceira Margem", alusão ao não lugar inventado por Guimarães Rosa e ao mesmo tempo uma chave de leitura para outros livros de artista que tentam mapear territórios.
Fábio Morais fez uma série em que recorta as próprias pegadas em mapas de oceanos que encontra em atlas geográficos. Recortando guias turísticos, Daniel Escobar faz saltar no texto todos os monumentos enumerados.
Outras obras de Odires Mlászho parecem tomar partido dessa arquitetura, sendo os próprios livros material construtivo para esculturas. Uma enciclopédia vira uma espécie de templo enquanto outra dá forma a uma estante de ondas de papel.