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julho 26, 2011
Artista cria museu de mundo imaginário por Silas Matí, Folha de S. Paulo
Artista cria museu de mundo imaginário
Matéria de Silas Martí originalmente publicada na Ilustrada do jornal Folha de S. Paulo em 26 de julho de 2011.
Em individual que abre hoje, Marilá Dardot usa trabalhos dela e de outros artistas para falar de sua terra fictícia
Obras na mostra estão em vitrines, como artefatos de um museu, acompanhados de seus verbetes explicativos
No terceiro mundo imaginado por Marilá Dardot, o sistema de cores se baseia em livros e flores, no caso, o estado de conservação de cada livro e o grau de maturação de cada flor. Também o tempo tem seu registro alterado, a arquitetura, os mapas e todo instrumento que rege a vida.
Não é um conceito geopolítico que ela usa na mostra que abre hoje na galeria Vermelho, em São Paulo, mas um terceiro mundo filosófico, que vem da junção de "um primeiro com um segundo".
Também em vez de mostrar só obras que fez, Dardot reúne em caixas e vitrines alguns resquícios de obras de artistas de sua geração para construir um discurso em torno dos tempos atuais, esse tal terceiro mundo de ideias que pauta uma leva de autores. "São obras reproduzidas aqui como se estivessem em espaços domésticos, não como obras de arte", resume a artista. "É como se fosse um museu histórico desse lugar."
Dardot, aliás, também não sai de sua esfera íntima. Estão nas paredes de seu museu trabalhos de artistas que despontaram em Minas Gerais, como ela, além de uma obra do próprio marido.
Rivane Neuenschwander, Cinthia Marcelle e Sara Ramo, que vivem em Belo Horizonte, emprestam seu vocabulário para pensar o tempo. Sua base também está na literatura de Julio Cortázar ou Emily Dickinson, constantes citações nos trabalhos. Mas o que fica é um inventário da delicadeza violenta do cotidiano, uma pausa para contemplar os absurdos da vida.
Num dos verbetes de seu museu, Dardot, citando o argentino Cortázar, descreve o ato de endireitar pregos com um martelo como ação de "perversidade fulminante".
Descreve também outro estranho ato dos habitantes do terceiro mundo, que se abaixam quando veem um brilho na calçada.