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julho 25, 2011
Tesouro Revelado por Camila Molina, O Estado de S. Paulo
Tesouro Revelado
Matéria de Camila Molina originalmente publicada no caderno Cultura do jornal O Estado de S. Paulo em 25 de julho de 2011.
Após outro adiamento na inauguração de nova sede, MAC prepara mostra com peças não vistas há anos
A inauguração da nova sede do Museu de Arte Contemporânea da USP (MAC), prevista para o segundo semestre, deve ser novamente adiada. Após visita de representantes da universidade ao antigo prédio do Detran, o diretor do museu, Tadeu Chiarelli, e a instituição decidiram esperar que todo o complexo - que inclui, além do prédio principal, três anexos - fique pronto para utilização, o que deve acontecer apenas no início de 2012. Por conta disso, o museu resolveu montar já em setembro uma exposição com cerca de 200 obras de seu acervo, algumas delas longe do público desde os anos 90.
"A instituição foi segurando a exibição da sua coleção e a gente não pode ficar assim", diz Tadeu Chiarelli. "Existe uma demanda muito grande sobre a possibilidade de o público entrar em contato com o acervo", continua o diretor do museu. A abertura da nova sede do MAC, cuja obra é realizada pela Secretaria de Estado da Cultura, vem sendo adiada desde 2009.
Sendo assim, a exposição Modernismos no Brasil, que o museu vai inaugurar em 13 de setembro, em seu espaço no pavilhão da Bienal, no Ibirapuera, vai reunir obras - muitas delas, peças-primas da instituição - que estão distantes do público há muito tempo. A tela A Negra, de Tarsila do Amaral, um dos grandes destaques do acervo do museu, teve sua última exibição em 2009. Mas há outros exemplos curiosos. A pintura A Boba, de Anita Malfatti, não é vista desde 2008; a escultura A Soma de Nossos Dias, de Maria Martins, foi exibida apenas em 2005. Já o autorretrato de Amedeo Modigliani, o único realizado pelo pintor, não é exibido desde 2007; e o quadro Mangaratiba, de José Pancetti, teve sua última aparição em 1998.
"A exposição é uma leitura da coleção modernista do museu, com várias vertentes", diz Tadeu Chiarelli. A mostra vai mesclar obras de artistas brasileiros e de estrangeiros, promovendo o diálogo entre a produção nacional e internacional. Nesse sentido, serão colocadas para o publico obras como Conceito Espacial (1965), de Lucio Fontana; O Enigma de um Dia (1914), de Giorgio de Chirico; e Plano em Superfícies Moduladas n.º 2 (1956), de Lygia Clark - todas não exibidas desde 2006. Ou figurará ainda A Santa da Luz Interior (1921), de Paul Klee, obra sobre papel que teve sua última exibição em 2002. "As escolas pedem para ver essas obras, com toda a razão; as pessoas cobram. E estou preocupado porque os mais novos não perguntam sobre a coleção pois não conviveram com ela, só os mais velhos", diz ainda Chiarelli, diretor do MAC desde abril de 2010.
Mudança. A transferência do MAC para o complexo do ex-Detran - o prédio e anexo principais foram projetados em 1951 por Oscar Niemeyer - foi acertada (mas ainda não "formalizada", diz Chiarelli) entre a USP e o Governo do Estado de São Paulo justamente para que a instituição tivesse um espaço à altura de seu rico acervo, com 9.512 obras. A Secretaria de Estado da Cultura está realizando a reforma do imóvel, tombado pelo Conpresp e Condephaat, desde 2008, mas o projeto do novo MAC também inclui a construção de dois anexos, que têm previsão de ficarem prontos mais adiante.
"Os edifícios originais estão previstos para serem entregues no final deste mês, mas não podemos cogitar a mudança do museu sem os anexos prontos. A gente não pode ir por partes", diz Chiarelli. "O empenho da secretaria é total, mas são problemas técnicos que surgem, é o imponderável." Segundo o secretário de Cultura Andrea Matarazzo afirmou ao Estado em maio, o governo de São Paulo gastou R$ 76 milhões nas obras para transformação da ex-sede do Detran em espaço museológico, com área total de 37 mil m².
O diretor do MAC explica que um dos anexos em construção vai ser dedicado a laboratório de conservação e restauro e para reserva. "É como se você fosse reunir mais de mil pessoas em um lugar e não tivesse os ambulatórios", explica Chiarelli. Há ainda outra questão: quando, afinal, todo o complexo da nova sede ficar totalmente pronto, o museu pretende promover testes nos novos espaços, por um período de cerca de dois meses. Só depois, enfim, o novo MAC será inaugurado para o público.
O museu foi instituído em 1963, quando Ciccillo Matarazzo decidiu transferir sua coleção do Museu de Arte Moderna para a recém-criada instituição. O MAC, atualmente, tem prédio exíguo no câmpus da USP e área no edifício da Bienal (que será desativada), ambos espaços que utiliza para suas atividades até que sua nova sede, em endereço mais acessível, fique pronta.