|
julho 12, 2011
Arte em ação por Silas Martí, Folha de S. Paulo
Arte em ação
Matéria de Silas Martí originalmente publicada no caderno Ilustrada do jornal Folha de S. Paulo em 12 de julho de 2011.
Performances abandonam escala individual e ganham dimensões maiores com a entrada de artistas visuais nos terrenos da ópera e do teatro
Tem nome de épico ou musical da Broadway com roupagem cult. Marina Abramovic estreou, no último sábado, em Manchester, não mais uma de suas performances, mas uma ópera inteira.
"The Life and Death of Marina Abramovic", ou a vida e a morte da mesma, tem direção do badalado dramaturgo americano Robert Wilson e um elenco com o ator Willem Dafoe, o músico Antony Hegarty, do Antony and the Johnsons, três cantores siberianos e mais 16 dobermans.
Ela não está mesmo sozinha. Outros grandes nomes, como Doug Aitken e Matthew Barney, que têm obras no Instituto Inhotim, em MG, e alguns dos escalados para o festival Verbo, que começa hoje na galeria Vermelho, em São Paulo, também extrapolam a escala antes mais enxuta da performance.
No caso de Abramovic, tudo começou quando ela pediu a Wilson que dramatizasse seu enterro, ideia que foi crescendo e ganhou as dimensões da vida inteira. Da infância na antiga Iugoslávia até a morte depois de uma carreira retumbante nas artes visuais, pautada por performances de longa duração e exaustivo esforço físico.
"Arte tem de ser mais lenta. Se aceitarmos a velocidade da plateia, não estamos mudando nada", disse a artista a um jornal britânico. "Nas performances maiores, é possível mudar o público."
Ou impressionar esse público. Matthew Barney, depois de "Cremaster", ciclo de cinco filmes da maior volúpia visual, vem desdobrando suas cenas fantásticas em ações ao vivo. Em Detroit, no ano passado, encenou por oito horas sob chuva o renascer do chassi de um carro a partir de uma pilha de destroços numa fábrica abandonada.
Já Doug Aitken acabou de encenar, numa balsa entre as ilhas gregas, outra ópera, que tinha como estrela a atriz Chloë Sevigny, além de duas cantoras gospel, cinco bateristas e quatro dançarinas.
MISE-EN-SCÈNE
Em escala mais modesta, a performance que abre hoje a sétima edição da Verbo, da holandesa Lot Meijers, põe sete atores em cena durante um jantar. São três horas de conversa, sem roteiro.
"É menos sobre o que eles estão dizendo e mais sobre a dinâmica entre eles", diz Meijers à Folha. "Quis trabalhar com atores porque eles são mais conscientes, sabem se portar sob holofotes."
Na mesma pegada teatral, Rose Akras, também escalada para a Verbo, revisita mecanismos da dança e dos palcos para construir uma espécie de cenário na galeria. Eva Schippers, também no festival, fala em "curto-circuito" na hora em que dirige suas ações. "Você está ali de forma indireta", diz ela. "É como se tentasse criar um Exército de mim mesma."