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junho 27, 2011
Era uma casa muito engraçada por Paula Alzugaray, Istoé
Era uma casa muito engraçada
Estética do absurdo conduz visitante na exposição individual de Ana Linnemann, no Rio de Janeiro
A experiência propiciada pela exposição “Cartoon”, de Ana Linnemann, começa do lado de fora da galeria. Para ser mais exata, começa dentro do táxi, que para diante da Galeria Laura Alvim, em Ipanema, na expressão do taxista, que, com o pescoço virado e o olhar vitrificado, se pergunta se ficou maluco. À descida do carro, a surpresa do taxista é compartilhada com outros transeuntes da avenida Vieira Souto: uma palmeira indomável que gira sobre o próprio eixo, como se tivesse sido tocada por um tufão. A palmeira faz parte da série “Os invisíveis”, de Ana Linnemann, composta por objetos motorizados, submetidos a movimentos repentinos e discretos, que acontecem em intervalos regulares. De discreta, a palmeira realmente não tem nada. Mas para quem passa por ali, imerso em si mesmo, seu giro enlouquecido poderia facilmente ser confundido com o efeito de uma ventania vinda do mar. Lá dentro da casa, sobre uma pilha de livros no alto de uma prateleira, uma garrafa de Coca-Cola – que subitamente se desloca de um lado para outro – tem o mesmo efeito fantasmagórico. A exposição chama-se “Cartoon”, mas poderia muito bem chamar-se “A Mulher Invisível”.
Toda a exposição ocorre durante o trajeto de uma prateleira, que percorre todas as paredes da galeria. Inconstante, o objeto se oferece à primeira vista como uma estante ordinária qualquer. Mas logo evolui de forma “malcomportada”, fazendo as vezes de rodapé, sanfona, moldura, zigue-zague. Ao longo do caminho, a prateleira sustenta outros objetos criados por Ana desde o ano 2000. Sempre objetos domésticos, modificados pela presença invisível da artista. Entre eles, um relógio e um globo terrestre, cortados como uma laranja descascada, ou um grupo de pedras bordadas com flores em ponto de cruz. Na saída, uma parede viva despede-se do visitante, deixando-o entrever absurdos movimentos de bolhas que brotam.
Ana Linnemann residiu durante 16 anos em Nova York, onde construiu uma carreira dinâmica, com mostras em instituições importantes como o El Museo del Barrio. Expôs também no Malba, em Buenos Aires. A exposição inaugura um novo ano curatorial da Galeria Laura Alvim, agora sob a tutela de Fernando Cocchiarale. Em 2009 e 2010, com Ligia Canongia, o espaço se destacou pela qualidade dos projetos, a maioria de cunho experimental. Ao que tudo indica, a tradição continua e o Laura Alvim se firma como espaço diferenciado.