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junho 27, 2011
Arte de preencher o vazio por Paula Alzugaray, Istoé
Arte de preencher o vazio
Matéria de Paula Alzugaray originalmente publicada na Istoé Independente em 4 de junho de 2011.
Coleção de arte contemporânea peruana do Museo de Arte de Lima viaja pela primeira vez ao Exterior. Estação Pinacoteca recebe a mostra
Nos anos 1950, seduzidas pela mesma promessa modernizante que no Brasil erigiu Brasília, as populações rurais do Peru migraram para as cidades. Vinte anos depois, o êxodo massivo levou a capital Lima a viver a explosão da economia informal e ao surgimento de uma nova categoria de postos de trabalho, apelidada “al paso” (de passagem). Em 1980, o coletivo de arte E.P.S. Huayco realizou o projeto “Arte al paso”, promovendo uma arte para ser consumida na rua. Hoje, reconhecida como uma das manifestações mais marcantes da arte peruana da segunda metade do século 20, a ação “Arte al paso” dá nome à exposição de arte contemporânea do Museo de Arte de Lima (Mali), que chega à São Paulo.
Essa é a primeira vez que parte da coleção do Mali é exposta no exterior. Para esse importante evento, os curadores Tatiana Cuevas e Rodrigo Quijano trazem 100 trabalhos que ao longo dos últimos 40 anos têm refletido sobre a paisagem sociopolítica e a situação de precariedade institucional no Peru. Enquanto o E.P.S. Huayco buscava estabelecer outros circuitos para a veiculação da arte, artistas como Emilio Hernandez Saavedra denunciavam o vazio de instituições culturais. Seu projeto “El museo de arte borrado” aponta para a ausência de um museu de arte moderna, em 1970.
Dispostos a preencher o vazio, os artistas peruanos têm criado instituições fictícias. Sandra Gamarra inventou o “Museo Limac” (2002), para o qual montou um acervo e um espaço físico. Suzana Torres criou o “Museo neo Inka” (1999-2011), cujo objetivo institucional é promover a desmistificação da identidade nacional. Fernando Bryce instituiu a “Huaco TV” (2002), em que uma cópia de cerâmica pré-colombiana é gravada por câmera de vídeo e transmitida ao vivo.
Por todo o percurso da exposição, encontram-se sinais de uma cultura que busca repensar-se a si mesma, considerando as relações entre um passado recente de violência política e militar e os efeitos de uma promessa de modernização. Em “Katatay (Temblar)”, Alfredo Márquez denuncia a ideia do atraso cultural, a que os países latino-americanos são frequentemente associados pela cultura européia. “Se eu dissesse que a América Latina sofreu a síndrome-da-modernidade-atrasada, eu estaria estimulando um terrível erro conceitual”, declarou o artista Armando Andrade Tudela quando expôs na 27ª Bienal de São Paulo, em 2006.