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junho 2, 2011
Tempo de telas múltiplas por Paula Alzugaray, Istoé
Tempo de telas múltiplas
Matéria de Paula Alzugaray originalmente publicada no caderno de Cultura da revista Istoé em 27 de maio de 2011.
Cultura da instantaneidade é celebrada e discutida em exposição que acontece simultaneamente em museu e na web
O fenômeno das salas multiplex, que nos anos 90 mudou a cara dos circuitos de cinema, foi um sinal dos tempos.
Hoje trabalhamos e nos divertimos com múltiplas telas abertas. “Tudo ao mesmo tempo, agora” é a palavra de ordem. Celebrar e questionar os efeitos de uma vida regida pelo imediatismo é o intuito do projeto “Agora/Ágora”, que acontece simultaneamente no Santander Cultural, em Porto Alegre, e na web.
Na exposição, a cultura da instantaneidade e da velocidade é particularmente bem interpretada pelos trabalhos que se utilizam das linguagens do vídeo e do cinema. Na entrada, a instalação “SuperCinema”, do artista baiano Rommulo Vieira Conceição, promove a sobreposição de dois espaços da vida cotidiana: o cinema e o supermercado. Isso significa que o público poderá consumir os produtos das gôndolas enquanto assiste a uma programação que inclui cults e blockbustes, como “Chinatown”, “Avatar” e “A Era do Gelo 3”. “O que diferencia um blockbusters de uma caixa de sucrilhos?”, pergunta a curadora Angélica de Moraes. “Queremos promover esse tipo de discussão, ocupando um espaço que é uma instituição financeira, que transaciona valores.”
O cinema é também a forma escolhida por Giselle Beiguelman, Wagner Morales, Perry Bard, Raquel Kogan e Lea van Steen para discurtir as descontinuidades da vida contemporânea. Em “Cinema Lascado”, Giselle documenta a paisagem fraturada de São Paulo. Em “Mamãe, Papai, Eu Sou...”, Wagner Morales aborda a identidade híbrida de uma família de coreanos. Mesmo a escultura “Túnel”, da dupla Rejane Cantoni e Leonardo Crescenti, promove as duplicidades e fantasmagorias próprias do cinema.
Embora o cinema se preste bem a essa discussão, a pintura, a escultura e a fotografia também se mostram, em “Agora/ Ágora”, linguagens híbridas e “fraturadas”. A pintura do artista gaúcho Frantz, por exemplo. Embora não seja “imediatista”, pode ser vista como resultado de um processo coletivo, em rede. “Frantz é um pintor que não pinta, mas se apropria dos resíduos da pintura de outros artistas”, explica Angélica de Moraes. Suas telas, antes de irem para as paredes, forravam o chão de ateliês de outros pintores. Ao dissociar seu processo pictórico das qualidades de manualidade e intensionalidade, Frantz dá à sua pintura um caráter conceitual e eminentemente atual.
A obra da artista nova-iorquina Perry Bard faz a ponte entre o espaço expositivo e o espaço web. Em “Um Homem com uma Câmera”, Perry convocou dezenas de artistas de todo o mundo a recriar o clássico de Dziga Vertov, de 1929. Os remakes podem ser acessados no site do projeto dziga.perrybard.net. Já o site da exposição (www.agora.art.br) oferece acesso a dez projetos de tecnologia social e artivismo, temas urgentes para se inteirar das ações colaborativas que proliferam na web.