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junho 2, 2011
Artur Barrio reflete sobre comunicação na Bienal de Veneza por Fabio Cypriano, Folha de S. Paulo
Artur Barrio reflete sobre comunicação na Bienal de Veneza
Matéria de Fabio Cypriano originalmente publicada no caderno Ilustrada do jornal Folha de S. Paulo em 2 de junho de 2011.
Artista de obra hermética e avesso a lobbies se define como "patinho feio" da exposição, que começa no sábado
Edição da mostra, com curadoria Bice Curiger, tem apenas 5% de participação de artistas latino-americanos
A presença de Artur Barrio, o representante brasileiro na 54ª Bienal de Veneza, é bastante improvável, especialmente numa mostra de caráter espetacular como a italiana.
Sua obra complexa e um tanto hermética, com frases incompletas e cabeças de peixe envolvidas em sal, fez com que vários visitantes torcessem o nariz, na abertura para a imprensa, anteontem.
"Eu sou o patinho feio", disse Barrio à Folha, perto de um dos canais que transpassa os Giardini, local onde está o pavilhão do Brasil.
O artista diz isso por estar entre os 5% de latino-americanos da mostra central, com curadoria de Bice Curiger, centrada em artistas norte-americanos e europeus.
Mas "patinho feio" é também uma boa definição para o artista, avesso a lobbies ou concessões.
Mesmo assim, ele já participou até da Documenta de Kassel, o Olimpo das artes plásticas, em 2002, onde chegou a criticar os próprios curadores do evento em sua sala, repleta de pó de café e paredes quebradas, escrevendo: "A curadoria é um mal desnecessário".
Outro fator que o torna único é que ele mesmo nunca sabe o que vai fazer até chegar ao local.
"Quando cheguei aqui, o produtor perguntou o que ele devia comprar, e eu disse que não sabia. O cara ficou preocupado, então eu falei para ele comprar uns barbantes", diz Barrio.
DIÁLOGO E MONÓLOGO
Agora, em Veneza, ele ocupa as duas salas do pavilhão brasileiro, uma com trabalhos históricos, com curadoria de Agnaldo Farias e Moacir dos Anjos, e outra com uma nova obra.
Nesta, criou dois espaços: a sala do diálogo e a sala do monólogo. "Vivemos uma era humana e desumana, na qual se pode comunicar de muitas formas, mas há pouca comunicação efetiva", diz.
Seu manifesto agora é "A sua pressa não é a minha pressa", que escreveu numa das paredes.
Na sala histórica, um tanto inadequada por seu caráter hiperinstitucional frente a um artista tão informal, estão fotos das trouxas ensanguentandas espalhadas num parque em Belo Horizonte, em 1970, que o caracterizaram como artista militante.
"Minha ideia nunca foi só política, nesse mesmo trabalho é possível ver outras relações com a própria história da arte", diz.
O atraso para a liberação da verba para seu trabalho, disponibilizada apenas na quarta da semana passada pelo Ministério da Cultura, não comprometeu o trabalho, mas ele levou a tensão que passou para o nome da obra, "Ex(tensões)...".
É nessa sala, em que ele recebe hoje a ministra da Cultura da Espanha, por conta do prêmio Velázquez, com o qual foi agraciado recentemente e pelo qual vai receber 120 mil euros. "Essa foi outra surpresa, jamais imaginei", diz, ainda vivendo seu momento de cisne branco.