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junho 1, 2011
As polêmicas mudanças no MIS-SP, falacultura.com
As polêmicas mudanças no MIS-SP
Matéria originalmente publicada no falacultura.com em 31 de maioo de 2011.
Leia também as matérias e respostas que compõem o Dossiê MIS e Paço das Artes: A morte anunciada de um modelo de gestão.
Governo do Estado decide alterar a linha adotada pelo Museu, usando como medida de qualidade a quantidade de frequentadores. André Sturm, do Cine Belas Artes, é nomeado diretor. A mudança causa revolta.
O Museu da Imagem do Som, em São Paulo, está passando por dias atribulados. Há certo tempo, o secretário de Estado da Cultura, Andrea Matarazzo, já dava sinais claros de que deseja mudar os rumos da instituição. O Governo do Estado afirmava que a programação do MIS, sob a diretoria de Daniela Bousso, “estava muito hermética” – não atraindo grandes públicos.
Sua escolha para a substituição de Daniela – o antigo dono do Cine Belas Artes e coordenador de Fomento e Difusão da Produção Cultural da Secretaria de Estado da Cultura de SP, André Sturm - Matarazzo manteve a linha de “popularização” da programação do MIS: “Foi uma sugestão (da substituição) compatível com o que nós queremos. O MIS precisa aproximar-se mais das pessoas”.
A “nova cara” do MIS
Sinais do novo projeto para o MIS já começaram a aparecer. A começar pela exposição que atualmente ocupa o espaço: 90 anos da Folha. Completamente diferente das mostras anteriores do MIS, geralmente voltados para formas vanguardistas do uso de novas linguagens e tecnologias nas artes, a mostra dedica-se exclusivamente a traçar um panorama da história do país, refletido na própria história do jornal. Essa mostra levou ao cancelamento de toda a programação previamente definida do museu. A respeito, Matarazzo comentou: “Tenho certeza de que será o maior público que o MIS vai receber desde a década de 80″.
Quanto ao novo diretor, André Sturm – escolhido em assembleia do Conselho Administrativo da Organização Social responsável pela instituição realizada ontem (30), seu perfil diz muito sobre a linha que o Governo do Estado pretende implementar no Museu. André é uma personalidade mais voltada para o mercado, sobretudo de filmes. Seus projetos futuros para o museu incluem o CINE-MIS, com exibições, e maior preocupação com oficinas de fotografia.
A reação
A classe artística, sobretudo os indivíduos ligados à gestão do MIS, não calaram-se diante das intervenções do Governo do Estado.
Em entrevista ao Estado, a presidente do conselho administrativo da Associação de Amigos do Paço das Artes, a artista e designer Eide Feldon, afirmou que “André [Sturm] é a cara do mercado, de distribuição [de filmes]. E não é essa a missão do MIS. O museu tem uma vocação, todo um aspecto ligado ao fomento e à experimentação”
Também foi criado na internet o Abaixo-Assinado SOS MIS, que pede o reposicionamento do projeto do museu. Ele vocifera contra o desrespeito com as organizações da sociedade civil que auxiliam o Estado na manutenção dos espaços culturais, como aconteceu no caso, e contra a proposta de “vanguarda tradicional” forçada pelo Estado.
Momento FalaCultura: sobre a suposta “programação hermética”
Conforme expressei no post sobre os oito melhores museus da cidade, considero o MIS dotado de uma das melhores (se não a melhor) programação de São Paulo. Além das exposições únicas, e sempre surpreendentes, as palestras e mostras do museu sempre destacaram-se por seu caráter vanguardista e de experimentação. O MIS era um dos poucos espaços culturais públicos em que discutia-se e produzia-se arte além do tradicionalismo tedioso que o status quo adotado pelas políticas culturais estatais acabava impondo.
A verdade é que, antes de tomar conhecimento de toda essa controvéria, muito me surpreendeu que o MIS fosse abrigar a exposição 90 anos da Folha. Simplesmente não combinava com o museu. Uma exposição de caráter tão comercial e mesmo promocional, praticamente desprovido de inovação artística, simplesmente não combinava com a imagem do MIS – achei inclusive bastante vexatório para a bem construída reputação da instituição.
Agora que eu entendo o contexto maior em que a exposição insere-se, não consigo deixar de me perguntar como o governo consegue confundir quantidade com qualidade, almejando alcançar um maior público por meio do sacrifício de um projeto inovador – e extremamente necessário – para o avanço artístico em nossa cidade. Isso se o projeto do novo MIS, de fato, atingir um público maior – afinal, ele parte do pressuposto de que o público paulistano não compreende ou não interessa-se por manifestações artísticas de vanguarda, sendo condenado a conviver eternamente com o marasmo da mesmice.
A tempo: No dia 21, sexta-feira, o evento da dupla Test, agendado previamente para acontecer no auditório, foi realizado alternativamente na entrada do museu, enquanto o auditório era ocupado por quatro sessões de cinema programadas por André Sturm. Enquanto a dupla Test teve público de cem pessoas, todas as quatro sessões programadas por Sturm, somadas, contaram com duas pessoas no público.
Não entendi essa do Andrea Matarazzo nomear o André Sturm para dirigir o MIS, sendo ele um funcionario da Secretaria de Estado da Cultura. Afinal as "OS", não foram criadas na gestão da Claudia Costin, justamente para sanar as finanças da SEC?
Posted by: Maria Gilka Bastos da Cunha at junho 6, 2011 5:29 PMOi, Marília, muito legal que vocês tenham colocado o meu artigo aqui no Canal Contemporâneo. Aliás, o dossiê sobre a questão do MIS ficou super completa, e é a questão é tão importante que um dossiê desses é mais que necessário.
Então, Maria, a questão toda acho que também tem muito a ver com isso que você comentou, do Matarazzo e do Governo de SP não estarem respeitando as OS. Agora que a SEC não vê mais utilidade neles, simplesmente as descarta, independente de todo trabalho realizado até aqui.
Posted by: Juliana Piesco at junho 6, 2011 6:50 PMOi Juliana, gostei muito do seu texto e pretendo escrever um também para alargarmos a conversa e tentarmos adentrar um pouco mais nas questões das OSs.
Sinto imensamente por São Paulo (e o Brasil) estar perdendo duplamente, tanto em relação a transformar as OSs em um modelo real de participação da sociedade civil na construção de suas instituições, como também em relação a termos um museu de ponta. Ao voltarmos todas as políticas públicas de cultura para a quantidade, infelizmente perdemos em experimentação e inovação.
Oi, Patrícia,
É muito importante que existam esses espaços para discutir as funções das OSs, e principalmente para discutir melhorias qualitativas para a cultura no nosso estado (e país), não somente quantitativas. Aguardo o seu texto!
Posted by: Juliana Piesco at junho 16, 2011 12:58 PMPubliquei o texto aqui no brasa. Pode compartilhar!
http://www.canalcontemporaneo.art.br/brasa/archives/004026.html