|
maio 25, 2011
Uma semente aberta por Paula Alzugaray, Istoé
Uma semente aberta
Matéria de Paula Alzugaray originalmente publicada no caderno de Cultura da revista Istoé em 25 de maio de 2011.
A multidisciplinar Lygia Pape, que inaugurou a arte contemporânea brasileira e atuou entre 1950 e 2004, ganha retrospectiva na Europa.
Essa “história da arte brasileira”, segundo Lygia Pape, começa com as pinturas abstratas de tendência orgânica, realizadas quando a artista integrava o Grupo Frente. A guinada para a geometria como caminho de experimentação ocorre com força na segunda metade da década de 1950, quando realiza os “Ballets Neoconcretos I e II”. Com a tradução musical de um poema e a colocação das formas geométricas em movimento no espaço tridimensional de um palco, Lygia dava o passo definitivo para a instauração da arte contemporânea brasileira: o neoconcretismo.
As conquistas neoconcretas – especialmente a participação do público na obra – continuariam guiando a trajetória da artista, mesmo depois da dissolução do grupo, em 1963. Foi aí que Lygia se lançou à experimentação com outras mídias, como o cinema, o vídeo e as artes gráficas, produzindo os letreiros de “Deus de o Diabo na Terra do Sol” (1964), de Glauber Rocha, e o cartaz de “Vidas Secas” (1963), de Nelson Pereira dos Santos.
Os anos de chumbo invadiriam a obra de Lygia Pape com a mesma força da chegada da Nova Objetividade ao seu trabalho, e ela investiria, como metáforas da situação política, em obras de efeito repulsivo como “Caixa de Baratas” (1967) e “Caixa de Formigas” (1967). Finalmente, as instalações “Ttéias” formam o núcleo da mostra. Sua centralidade é um claro eco da realidade: os efeitos da luz dourada de “Ttéia 1” (2002) chamaram a atenção do mundo na 53ª Bienal de Veneza. A exposicão viaja para a Serpentine Gallery, em Londres, antes de chegar à Pinacoteca de São Paulo, em março de 2012.