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maio 16, 2011
Presente barroco por Ana Cecília Soares, Diário do Nordeste
Presente barroco
Matéria de Ana Cecília Soares originalmente publicada no caderno 3 do jornal Diário do Nordeste em 16 de maio de 2011.
Exposição reúne aproximações da Arte Contemporânea com o Barroco, traçando um diálogo entre artistas das mais diferentes gerações e linguagens
Inspirados no Barroco como temática e estética, muitos artistas contemporâneos têm revisitado dos modos mais criativos, este estilo artístico que floresceu entre o final do século XVI e meados do século XVIII, inicialmente na Itália, difundindo-se, posteriormente, pelos países católicos da Europa e da América.
A pesquisadora Maria Leonor Barbosa Soares, do Departamento de Ciências e Técnicas do Patrimônio da Universidade do Porto, no artigo "Formas e sentidos do Barroco na Arte Contemporânea", nos diz que, apesar das diferenças nos conteúdos e nas linguagens, esses dois momentos apresentam alguns pontos em comum.
"Ambos são possuidores de muitas facetas no que diz respeito à forma de expressão, aos materiais e as técnicas. Além de fazerem da imagem o meio de comunicação privilegiado, por meio de um apelo multissensorial que provoca o maior grau de envolvimento possível do observador, cuja emoção e a reação completa a obra, conferindo-lhe por vezes o sentido", diz.
A partir da pergunta "que vestígios do Barroco ainda reverberam na arte atual?" os curadores Rafael Lima Verde e Simone Barreto pensaram o recorte curatorial de "Eco Barroco". A exposição será aberta, amanhã, às 18 horas, no Centro Cultural Banco do Nordeste (CCBNB), em Fortaleza. Reunindo trabalhos de artistas cearenses que, em algum momento de sua trajetória artística, apresentam traços e elementos próprios do Barroco.
Os artistas que participam de "Eco Barroco" são: Euzébio Zloccowick (fotocolagem); Robézio Marqs (técnica mista); Henrique Viudez (técnica mista); LeoBdss (técnica mista); Francisco de Almeida (xilogravura); Diogo Braga (vídeo-instalação); e o Grupo Acidum (grafite/stencil). As obras expostas, em suas várias linguagens (fotografia, grafite, pintura, videoarte e xilogravura), dialogam entre si destacando suas semelhanças e singularidades, oferecendo ao espectador uma visão abrangente do que constituiu o movimento Barroco e seus reflexos na produção contemporânea, (desconhecidos da maioria das pessoas).
Segundo Rafael Lima Verde, "Eco Barroco" faz parte de uma pesquisa que vem desenvolvendo a algum tempo, para a qual pretende dar continuidade mais a frente. A arte barroca sempre exerceu um certo encantamento no artista, desde a adolescência, quando entrou pela primeira vez numa igreja ornamentada nesse estilo artístico, localizada na cidade de Recife (PE).
Assim, em seu primeiro trabalho como curador, o artista põe em prática alguns de seus questionamentos sobre o assunto. "O artista contemporâneo divide olhar entre as inovações do mundo globalizado em frenética transição, suas tradições e sua espiritualidade. Experimenta um retorno às antigas técnicas e conhecimentos. Uma ressignificação de conteúdos e formas, um olhar não apenas técnico mais transcendente do mundo. A exposição permitirá esse diálogo entre tempos artísticos cronologicamente distantes, mas, em sua essência, próximos, pois tratam da busca do homem, através da arte, de respostas e perguntas para o mundo e para si mesmo. E isso é atemporal", conclui.
Fique por dentro
Arte de contrastes
A origem da arte barroca remete à Itália. Surgiu em meados do século XVII, mas não tardou a irradiar-se por outros países. As obras barrocas forma marcadas pelo rompimento do equilíbrio entre o sentimento e a razão ou entre a arte e a ciência, que os artistas renascentistas procuram realizar. Nesta tendência artística predominam as emoções e não o racionalismo do Renascimento. O estilo barroco traduz a tentativa de conciliar forças antagônicas. Dentre suas características têm-se a busca de efeitos decorativos e visuais, através de curvas, contracurvas, colunas retorcidas; entrelaçamento entre a arquitetura e escultura; violentos contrastes de luz e sombra; e a pintura com efeitos ilusionistas, dando-nos às vezes a impressão de ver o céu, tal a aparência de profundidade conseguida.