|
maio 13, 2011
Filmes-arte de brasileiros vão do lírico ao grotesco por Silas Martí, Folha de S. Paulo
Filmes-arte de brasileiros vão do lírico ao grotesco
Matéria de Silas Martí originalmente publicada na Ilustrada do jornal Folha de S. Paulo em 13 de maio de 2011.
Obras são versão nacional de projeto criado em NY por curador britânico
Curtas do Destricted.br serão exibidos neste domingo em SP e vão para mostra em julho na galeria Fortes Vilaça
Diante das cenas mais chocantes, a plateia reage com suspiros e gritinhos. Na saída da sessão privê do filme de Tunga, há alguns meses em São Paulo, convidados tentavam digerir aquilo que viram ser devorado nas cenas de sexo: suco de maracujá e sorvete.
"É uma história de amor. Trata de conectar coisas que não são conectáveis", disse o artista à Folha, resumindo sua obra no projeto Destricted. "Quando você rege esses contatos, faz uma alquimia e leva a imagem a ter carga integral na tela do cinema."
Esse foi o primeiro curta da perna nacional do projeto a ficar pronto. Por isso, acabou sendo lançado no pacote de filmes estrangeiros idealizado pelo curador britânico Neville Wakefield em Nova York no fim do ano passado.
"Os filmes do projeto norte-americano estavam mais crus", disse Wakefield. "Mas o que está na obra de Tunga é tão explícito quanto aquilo."
Marcia Fortes, da galeria Fortes Vilaça, que liderou o projeto no Brasil, discorda. "Artistas daqui tiveram uma relação mais física, mais carnal com essa proposta", explicou. "É menos estilizada a resposta dos brasileiros."
Tanto que, sem rodeios, Marcos Chaves define seu curta deturpando o lema do cinema novo. "É uma ideia na cabeça e uma câmera no pau", disse o artista. "Eu ficava com a câmera na altura do pênis enquanto filmava."
Seu filme traz homens de sunga na praia e orgias tanto em quartos escuros como ao ar livre, em pleno Carnaval.
Janaina Tschäpe, na mesma pegada voyeur, inverte a perspectiva, mostrando uma série de atos sexuais vistos por uma câmera subjetiva. É como se o espectador fosse agente das cenas.
SEREIAS E BAUDELAIRE
Mais alegórica, Adriana Varejão transpõe para o cinema erótico a estética barroca, de azulejos e desenhos, que marca sua obra artística.
Ela filmou uma sereia encalhada numa piscina vazia, toda azul, à espera de um amante para um affair de escamas e espuma do mar.
Em terra firme, Dora Longo Bahia e Julião Sarmento fizeram filmes mais cerebrais, que tentam verbalizar o sexo. Se as mulheres de Sarmento narram encontros tórridos em línguas diferentes, Bahia mostra uma mulher num exercício de masturbação radical, com um taco de beisebol, enquanto um poema de Charles Baudelaire desliza na tela em letras vermelhas. "Queria que ela não fosse vítima, que estivesse no comando, e que o sangue fosse um lubrificante", diz a artista. "Mas tem cenas em que ela parece um pernil, um pedaço de carne."