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abril 12, 2011
Marcar presença por Paula Alzugaray, Istoé
Marcar presença
Matéria de Paula Alzugaray originalmente publicada no caderno de Cultura da revista Istoé em 8 de abril de 2011.
Presenças / Zip Up, Zipper Galeria, SP/ até 23/4
Inaugurada em setembro de 2010 em São Paulo, com a louvável missão de focar em artistas em início de carreira, a Zipper galeria acaba de abrir a Zip Up, uma nova sala expositiva com a também apreciável e não menos ousada função de abrir-se a projetos de jovens curadores convidados, especialmente desenhados para o local. A primeira fase do projeto conta com o jornalista Mario Gioia, que desde 2009 vem realizando vários projetos curatoriais.
Cinco obras, confeccionadas em cinco técnicas, marcam a coletiva “Presenças”, que inaugura o espaço. O curador detem-se aqui nas tensões não apenas entre técnicas, mas também entre os elementos que ele aponta como “ausentes” dos trabalhos e do espaço expositivo. O desenho de Tatiana Dalla Bona, por exemplo, demarca a ausência dos corpos infantis em roupas e em cenários onde normalmente se retratariam crianças brincando. O vídeo “Considerações no Meio da Noite”, de Angela Varela, coloca-se como um registro da falta de controle e segurança a que o artista se expõe durante o ato performático. Já as fotografias que Ilana Lichtenstein tirou em viagem ao Japão antes do terremoto (foto) são menos sugestivas dentro da proposta conceitual da exposição.
O trabalho que tensiona com mais força a linha entre ausências e presenças é a pintura de Betina Vaz Guimarães, que funciona como o rastro de um acontecimento. Pintada no mesmo local em que está agora exposta, a tela de Bettina registra um histórico da incisão da luz no local. Registra também os móveis que ocupavam a sala que, antes de ser a sala Zip Up, era um dos escritórios da galeria. Essas mesas e cadeiras são hoje uma lembrança, documentada na tela de Betina. O espaço foi generosamente cedido para o exercício da curadoria, demonstrando o entendimento de que, assim como um trabalho artístico, uma curadoria é uma maneira de materializar ideias. Mais que isso, é uma forma de discernir conexões e distâncias entre artistas. Ações que só ganham presença se tiverem espaço disponível.