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março 28, 2011
Feito à mão por Paula Alzugaray, Istoé
Feito à mão
Matéria de Paula Alzugaray originalmente publicada na Istoé em 25 de março de 2011.
Passagem secreta - Brígida Baltar/ Organizado por Marcio Doctors/ Editora Circuito/Gratuito
Na apresentação de “Passagem Secreta”, projeto contemplado pelo programa Conexão Artes Visuais, da Funarte, em 2010, o curador Marcio Doctors anuncia que o leitor tem em mãos um “livro-obra”. Realizada a quatro mãos entre o curador e a artista Brígida Baltar, a publicação tem de fato conceituação e projeto gráfico que escapam aos padrões e vêm propor uma qualidade diferente de leitura e contemplação. Além de cumprir seu papel de realizar uma monografia da obra artística de Brígida – com textos selecionados de nove críticos de arte brasileiros e estrangeiros e uma longa conversa entre artista e curador –, o livro traz dois ensaios visuais inéditos, criados durante o processo de produção editorial. Como resultado, esse livro-obra ganha a dimensão de uma gravura, uma obra gráfica, talhada à mão.
O primeiro aspecto que chama a atenção é o corpo da fonte escolhida para os textos: mínimo. Especialmente para os textos que se infiltram entre imagens, às vezes como notas subjetivas, às vezes contando historietas relativas à elaboração do trabalho, mas sempre acrescentando nova camada de informação à leitura da imagem.
A concentração exigida para a leitura inspira silêncio e remete ao mesmo estado curioso no qual mergulhamos quando somos impelidos a olhar pelo buraco da fechadura. Ou ao estado de torpor sugerido nas imagens em que a artista afunda o rosto em uma casa de abelha feita de tecido, se debruça sobre os buracos das paredes de sua casa, ou simula o movimento arredio das marias-farinhas que se escondem nos buracos da areia (foto).
Outro aspecto diferenciado do livro é a riqueza de diagramação das fotografias, que se movimentam página a página sem nenhuma monotonia, exigindo do leitor atenção total a cada detalhe. Toda essa organização minuciosa confabula a favor de uma entrada sutil e respeitosa na obra de Brígida. Como se entrássemos em sua casa.