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março 17, 2011
Coleção de imagens, gestos e palavras por Maria Hirszman, O Estado de S.Paulo
Coleção de imagens, gestos e palavras
Matéria de Maria Hirszman originalmente publicada no caderno de cultura do jornal O Estado de S. Paulo em 16 de março de 2011.
Mostra que será aberta hoje oferece visão ampla da produção de Leonilson
"Leonilson por ele mesmo": este bem poderia ser o título da exposição retrospectiva do artista, figura-chave da arte brasileira nos anos 80 e 90, que será inaugurada nesta quarta-feira,16, no Itaú Cultural. Por meio de uma seleção de aproximadamente 300 trabalhos - entre os quais destaca-se uma grande quantidade de anotações e pequenos desenhos, mas que contempla também algumas pinturas e esculturas emblemáticas -, a mostra amplia as leituras que reiteradamente privilegiam em sua obra aspectos específicos - como a expressão das minorias, o recurso a materiais e gestos cotidianos ou a construção de um discurso autobiográfico -, para ensaiar uma visão mais ampla e generosa.
Foram os próprios elementos expressivos usados pelo artista em seus trabalhos que sugeriram os fios condutores a serem explorados. A palavra, que tem grande importância em sua obra, ocupa lugar de destaque. É ela e uma série de outros elementos simbólicos recorrentes (como o globo terrestre, a cadeira, os rios e o corpo humano) que criam um fluxo contínuo entre os três blocos que compõem a exposição. No núcleo inicial, os curadores Ricardo Resende e Bitu Cassundé criaram um percurso biográfico, permeado por textos, obras e objetos de Leonilson (1957-1993), mapeando aquilo que mobilizava seu olhar e seu afeto.
A mostra, a mais importante dedicada ao artista desde a retrospectiva realizada em 1995 por Lisette Lagnado, parte de uma visão de Leonilson como uma espécie de taxonomista, de colecionador de imagens, gestos e palavras. "Ele vai classificar o mundo a partir dele", explica Cassundé. Outro aspecto bastante evidente nesse primeiro núcleo é a capacidade de Leonilson de tornar arte aquilo que em princípio pertence ao mundo banal, corriqueiro. "Como se fosse uma espécie de Midas, tudo que ele tocava virava arte", acrescenta Resende. Exemplos disso são suas agendas e cadernos, que estarão à disposição do público em versões digitalizadas.
O segundo núcleo da mostra reúne obras inéditas e farto material de arquivo, pertencentes ao artista e amigo Albert Hien. Merece destaque a obra How to Rebuild at Least One eight Part of the World, feita há quatro mãos em 1996 em - mórbida coincidência - plena crise de Chernobyl. Há também na exposição alguns trabalhos de autoria de Hien, destacando a importância da troca, das influências recíprocas que marcaram Leonilson e os artistas com quem ele conviveu.
No terceiro e maior segmento estão reunidos os trabalhos de maior dimensão e mais conhecidos do artista. Lá está o pequeno desenho/poema Sob o Peso dos Meus Amores, que batiza a exposição.
Além da mostra propriamente dita, uma série de eventos em torno da produção de Leonilson devem ocorrer nos próximos dias. O Itaú Cultural organiza ainda um seminário e um ciclo de performances e a Capela do Morumbi vai receber, a partir do próximo sábado, uma reedição da antológica instalação feita pelo artista no local em 1993.