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março 17, 2011
Veto a repasse do MinC ameaça Brasil em Veneza por Fabio Cypriano, Folha de S. Paulo
Veto a repasse do MinC ameaça Brasil em Veneza
Matéria de Fabio Cypriano originalmente publicada no caderno Ilustrada do jornal Folha de S. Paulo em 16 de março de 2011.
Lei prejudica acordo com a Bienal de SP para representação do país na mostra italiana
Legislação que proíbe repasses inviabiliza convênio que estabelece que Funarte custeie exposição de brasileiro
A representação brasileira na 54ª Bienal de Veneza "encontra-se seriamente ameaçada". A afirmação foi escrita por Heitor Martins, presidente da Fundação Bienal, em carta à ministra da Cultura, Ana de Hollanda, e ao ministro das Relações Exteriores, Antonio de Aguiar Patriota.
"Não se trata de conflito, mas é um alerta, se em 15 dias o dinheiro não chegar, o catálogo e mesmo a obra do artista podem simplesmente não acontecer", disse Martins, por telefone, de Washington (EUA), à Folha.
Em um convênio com a Funarte e o Ministério das Relações Exteriores, dono do pavilhão brasileiro em Veneza, a Bienal de São Paulo ficou encarregada de organizar a representação nacional.
Desta vez, ela será realizada por Artur Barrio.
Segundo o acordo, a Funarte paga as despesas diretas. No entanto, a lei nº 12.377, de dezembro do ano passado, proibiu o repasse de verbas do MinC para entidades privadas, o que prejudicou o acordo com a Bienal.
O ministério, contudo, estuda medidas para repassar o montante. "Queremos resolver o problema. Estamos tentando achar uma fórmula, que pode ser o Ministério das Relações Exteriores passar o dinheiro ou a alteração da compreensão de evento, que é o que foi proibido de ganhar repasse do MinC", disse à Folha Antonio Grassi, presidente da Funarte.
"Enviamos a carta aos ministros porque creio que possam agilizar o processo. Seria um vexame o pavilhão não estar pronto", diz Martins.
A reportagem tentou, ontem, falar com a ministra, mas, segundo a assessoria, ela estava em uma reunião no Palácio do Planalto.
Martins diz que a Bienal já gastou cerca de R$ 250 mil, que não são parte do convênio, no cachê dos curadores -Agnaldo Farias e Moacir dos Anjos- e no catálogo.
CONVÊNIO
A 54ª Bienal de Veneza será inaugurada em 4 de junho e, pela primeira vez na década, não terá brasileiros na mostra principal, curada pela alemã Bice Curiger.
A Bienal de São Paulo tem sido a responsável pela indicação do representante brasileiro desde os anos 1990.
Em 2001, o empresário Edemar Cid Ferreira, indicado pela Bienal, pagou não só a representação de Ernesto Neto e Vik Muniz, como também mostras de santos barrocos, fantasias de Carnaval e trajes de Carmem Miranda.
Em outros países, as representações costumam ser indicadas por organismos governamentais. "Nas próximas bienais, podemos rever esse convênio", diz Grassi.
Mesmo sem ter a renovação, contudo, Martins já anunciou que o curador da 30ª Bienal de SP, em 2012, Luiz Pérez-Oramas deve indicar o representante brasileiro em Veneza em 2013.
Edemar Cid Ferreira pagou. Mas quem estava bancando Edemar Cid Ferreira?
Não é à toa que o acervo milionário do cara está confiscado.
Fraude não paga nada. No final quem paga, aqui no Brasil, é o pagador de impostos.
Ainda aqui na terrinha, para que organismos governamentais indiquem a representação brasileira, vão ter que passar a entender de arte contemporânea (nem a ministra entende, ou não receberia Romero Brito como representante da arte brasileira no exterior) ou convocar especialistas. O que é mais seguro para a imagem do Brasil lá fora...
Heitor Martins, o presidente da Fundação Bienal, diz que já gastou R$ 250 mil no cachê dos curadores e no catálogo da representação brasileira na Bienal de Veneza. Seria honesto com a opinião pública ele revelar qual o valor desses cachês pagos a Agnaldo Farias e Moacir dos Anjos (pois se trata de dinheiro público sendo utilizado) e também quanto está gastando no catálogo, pois das duas uma, ou os curadores está sendo regiamente pagos pra passear em Veneza ou a cotação desse catálogo deveria ser auditada.
Posted by: Celso Fioravante at março 22, 2011 8:49 AMAlgumas notas de esclarecimento em relação à matéria acima, publicada na Folha de São Paulo, em que consta a informação que a Fundação Bienal de São Paulo teria pago 250 mil reais para a curadoria e o catálogo da participação brasileira na Bienal de Veneza.
1. Não há dinheiro algum disponível para a produção do catálogo, que terá cerca de 250 páginas, com tiragem de 2.000 cópias em edição bilíngue. O que há é uma equipe de designers contratada em caráter permanente pela Bienal (finalmente!) trabalhando, desde o ano passado, em toda a produção de impressos da instituição (e não só impressos, já que muita coisa é feita por essa equipe também para o site). É possível que nesse valor publicado esteja contabilizado o salário dessa equipe pelo trabalho já realizado nos últimos meses, incluindo o projeto do catálogo para a participação de Artur Barrio na Bienal de Veneza. Em todo caso, quem pode esclarecer isso é quem deu a informação e o repórter que a colheu. Repetindo: não há ainda nenhum recurso, que seja de meu conhecimento, disponível para a produção física do catálogo da representação brasileira.
2. Eu (Moacir dos Anjos) e Agnaldo Farias não iremos ganhar, somando os honorários brutos dos dois, sequer a metade do valor divulgado para, ao longo de seis meses: (i) formatar mais de uma dezena de exposições com obras selecionadas da 29a Bienal de São Paulo que irão itinerar pelo Brasil até agosto deste ano, em cidades como Belo Horizonte, Rio de Janeiro, Salvador, Recife, Curitiba, Brasília, Campinas, Juiz de Fora, incluindo ainda acompanhamento de produção, elaboração de textos, participação em eventos (mesas-redondas, palestras) e tudo o mais que tal responsabilidade implica; (ii) conceber, formatar e acompanhar a produção e a montagem da mostra de Artur Barrio em Veneza, que compreenderá uma sala com seus Registros (fotos, livros, cadernos, filmes, textos) e outra sala com trabalho inédito feito especialmente para a Bienal de Veneza; (iii) editar catálogo com as características acima especificadas, que será (ou pretende-se que seja) publicação de referência sobre o artista, incluindo extensos ensaios inéditos dos curadores, cronologia, entrevista inédita com o artista, bibliografia, etc. Ou seja, não há um cachê específico para a curadoria da Bienal de Veneza, mas um único contrato que inclui, além desse trabalho, uma série de ações relacionadas à itinerância da 29ª Bienal de São Paulo.
Com a larga experiência que Celso Fioravante tem de produção, edição e curadoria de eventos, ele poderia, agora, dar seu testemunho se esse valor divulgado é compatível com as ações e os produtos listados acima. Ou seja, se pode eventualmente existir alguma outra opção entre os curadores estarem sendo pagos para passear em Veneza e o superfaturamento do catálogo. Antes de lavrar, como é de seu feitio, e como tem feito outras vezes em relação a projetos em que estou envolvido, insinuações levianas sobre minha seriedade profissional.
Moacir dos Anjos