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março 14, 2011
Mostra documenta criação de novo olhar por Fabio Cypriano, Folha de S. Paulo
Mostra documenta criação de novo olhar
Matéria de Fabio Cypriano originalmente publicada no caderno Ilustrada do jornal Folha de S. Paulo em 12 de março de 2011.
Trabalhos de Aleksandr Ródtchenko evidenciam período artístico que pretendia revolução da sensibilidade
Assim como os demais artistas transgressores, Ródtchenko acabou perdendo o direito de trabalhar
"É preciso incentivar o amor pela fotografia, para que as fotos sejam colecionadas, para que se criem fototecas e aconteçam exposições fotográficas de grande escala", pregou Aleksandr Ródtchenko em "A Fotografia É uma Arte", de 1931.
Escrito num tempo em que manifestos artísticos eram moeda comum, além estar inserido no contexto revolucionário da União Soviética, iniciado em 1917, o texto é representativo do caráter utópico que a arte representava para figuras como o cineasta Sergei Eisenstein e o poeta Vladimir Maiakóvski.
Junto com o fotógrafo Ródtchenko, esses artistas buscavam criar um novo homem através de uma nova sensibilidade e, por isso, a experimentação foi tão usada por todos eles.
A exposição "Aleksandr Ródtchenko: Revolução na Fotografia" apresenta um excelente panorama desse momento em 300 obras, sejam fotografias, fotomontagens, capas de livro, revistas ou cartazes, realizados entre 1924 e 1954.
"Para acostumar as pessoas a ver a partir de novos pontos de vista é essencial tirar fotos de objetos familiares, cotidianos, a partir de perspectivas e de posições completamente inesperadas", defendia Ródtchenko, em 1928.
Assim, a mostra reúne um conjunto significativo de imagens que defendem essa nova proposta, que influenciaria o olhar fotográfico, definitivamente, a partir de então.
CERCEAMENTO
Se a experimentação foi motor do início da revolução, seu cerceamento, com o endurecimento do regime soviético, chega ao ápice quando, em 1932, o partido comunista dissolve as associações culturais e o realismo torna-se arte oficial.
Desse período torna-se claro que Ródtchenko, submetendo-se à nova linha, retrata o trabalhador, mesmo que por ângulos inovadores.
No entanto, assim como os demais artistas transgressores, Ródtchenko acabou perdendo o direito de trabalhar. A mostra em cartaz só foi possível porque sua família manteve sua obra intacta e conseguiu criar a Casa da Fotografia de Moscou, sede de grande parte das imagens da exposição.
"Revolução na fotografia", assim, é não só uma excelente reunião de trabalhos, como o testemunho de uma época de transformações radicais.