|
março 11, 2011
Gravuras no Masp exibem idas e vindas da figuração por Silas Martí, Folha de S. Paulo
Gravuras no Masp exibem idas e vindas da figuração
Matéria de Silas Martí originalmente publicada no caderno Ilustrada do jornal Folha de S. Paulo em 5 de março de 2011.
Obras vão de paisagens a experimentos conceituais, passando pela abstração
Novo recorte do acervo do museu traz obras de Alfredo Volpi, Tarsila do Amaral, Flávio de Carvalho, entre outros
Não fossem as legendas, composições pontilhadas e tortuosas de Wesley Duke Lee, beirando o abstrato, talvez não fossem vistas como paisagens litorâneas que ele identificou como o Guarujá paulista e Paraty, no Rio.
Esse mesmo artista depois volta a confundir a forma sem rodeios, com um castiçal em primeiro plano que torna o pano de fundo uma espécie de negativo de um casal que se aproxima para um beijo.
São todas gravuras que estão no recorte proposto agora pelo Masp em sua coleção de papéis, juntando os maiores nomes do suporte no país.
É uma reorganização do acervo que tem como eixo central o foco na figura, que começa com a placidez das paisagens, depois o mergulho na abstração dos modernos e da geração 80 e termina com o retorno dessa figuração em chave conceitual.
Não estranha, então, a escolha dessas quatro gravuras de Duke Lee, morto no ano passado, como espécie de resumo informal da mostra.
Mas, ao lado dessas paisagens difusas, estão paragens mais nítidas de Volpi, Tarsila do Amaral e um idílio campestre de Carlos Oswald, de forte pegada art nouveau.
Esses contornos vão se esmaecendo ao longo da segunda sala da mostra, que reúne a anatomia em mutação de rostos e corpos retratados na ânsia dos artistas pela dissolução da forma.
Estão lá exemplos fortes do expressionismo de Flávio de Carvalho, uma gravura colorida de Iberê Camargo, além dos devaneios de Louise Weiss e Otávio Araújo.
Renina Katz fica no meio do caminho entre abstrato e figurativo depurando suas paisagens. São frestas de florestas, troncos ou trovões numa natureza selvagem, que abre caminho para a abstração quase total de Tomie Ohtake, Manabu Mabe, Maria Bonomi e Livio Abramo.
Mas mesmo pautada pelas idas e vindas da figura, a mostra não deixa de ser cronológica, reservando à ala mais nova os experimentos pop de Claudio Tozzi, a célebre Lindoneia, de Rubens Gerchman e o naturalismo agressivo de Alex Flemming.
Regina Silveira e Leda Catunda aliviam excessos de sexo e violência numa última alcova, com cores mais vivas e alguns truques visuais.