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março 10, 2011
Quem tem medo de Ana de Hollanda? por Leonardo Brant, Cultura e Mercado
Quem tem medo de Ana de Hollanda?
Artigo de Leonardo Brant originalmente publicado no Cultura e Mercado em 3 de março de 2011.
A ministra da Cultura anunciou hoje o cientista político Wanderley Guilherme dos Santos como novo presidente da Fundação Casa de Rui Barbosa. Com isso, espera estancar mais uma polêmica envolvendo a recuperação do Ministério da Cultura, em constante ameaça por grupos de interesse que ali se instalaram durante a gestão de Juca Ferreira.
No último domingo (27/2), durante conversa telefônica, a ministra Ana de Hollanda pediu que o sociólogo Emir Sader se retratasse sobre entrevista dada ao jornal Folha de S. Paulo, em que a chamou de “meio autista”. Sader disse que a frase havia sido publicada fora de contexto. E publicou um artigo em resposta à matéria do jornal (clique aqui para ler).
Na terça (1/3), a Folha publicou o áudio da entrevista na internet. Na quarta (2/3), Ana de Hollanda informou que Sader não assumiria mais o cargo ao qual havia sido indicado. A decisão de não nomear o sociólogo foi sacramentada durante reunião da presidente Dilma Rousseff com outros integrantes da cúpula do governo.
O jornal Folha de S.Paulo informa que a ação causou saia justa no PT. Sader articulou, durante o segundo turno das eleições, o encontro que deu origem ao abaixo-assinado de artistas e intelectuais a favor de Dilma Rousseff. Além disso, é ligado a Gilberto Carvalho, secretário-geral da Presidência, e a Marco Aurélio Garcia, assessor para assuntos internacionais da Presidência.
A posição crítica de Sader, de acordo com funcionários e ex-funcionários do MinC, seria também de parte do PT, que está descontente com os rumos da pasta. Não consegui detectar o tal “racha” anunciado pela Folha, mas sim vozes dissonantes, porém desarticuladas.
Um pequeno grupo de ativistas ligados à cultura digital vem fazendo oposição ostensiva à ministra Ana de Hollanda, desde que foi anunciada no cargo. A tentativa é associar a ministra ao ECAD, o que representaria ameaça ao discurso e aos interesses políticos do ex-ministro Juca Ferreira. Não por acaso este mesmo grupo saiu a campo em defesa de um injustificável e implausível #ficajuca (a campanha pela permanência do cargo comandada pelo gabinete do ex-ministro teria custado cerca de R$ 500 milhões aos cofres públicos).
Embora pouco numeroso, o grupo é barulhento e tem boa penetração nas velhas e novas mídias. Tenta aquecer e turbinar um processo de desestabilização do novo MinC, com um volume de exposição negativa da nova ministra nas redes sociais, disseminando boatos e aquecendo factóides. Anna de Holanda contribuiu muito, dando alguns troféus para o grupo, como a retirada do selo Creative Commons do site do MinC. Embora o ato seja compreensível, não poderia ter sido feito em pior momento. O estopim desse processo, que rendeu uma tentativa frustrada de criar um coro em torno de um #foraannadeholanda foi a mudança na Diretoria de Direitos Intelectuais, coincidindo com as declarações proferidas por Emir Sader.
A estabilidade política do novo MinC está muito ligada à sua capacidade de resolução das pendências financeiras deixadas pela adminstração anterior. Em recente reunião com os pontos de cultura, foi feito um acordo de regularização gradativa dos débitos e o empenho para a resolução de problemas com inadimplência e débitos de 2010. Os débitos anteriores são mais complicados, pois exige gestão em outras instâncias do governo.
Mas como uma pendência do governo anterior (que só empurrou com a barriga os problemas dos Pontos de Cultura) pode afetar a credibilidade de Anna de Holanda? A resposta encontra-se nessa mesma central de boatos, que espalhou para as redes e listas de e-mail que a nova ministra teria a intenção de acabar com os Pontos de Cultura. Nem mesmo a indicação de uma gestora de reconhecida capacidade, como é o caso na nova secretária Marta Porto, e sua equipe formada por pessoas como Cesar Piva, que ajudaram a construir o programa Cultura Viva de dentro, conseguiram afastar os efeitos da tempestade que inundou o MinC.
Mas o MinC de Anna de Holanda não vive apenas de mau tempo. A criação da Secretaria de Economia Criativa, ocupada por Claudia Leitão, tem gerado repercussões positivas e se transformou na principal agenda propositiva do MinC nesses dois primeiros meses de atuação.
Aguardamos com apreensão os próximos capítulos dessa novela, que impede o foco nos problemas reais das políticas culturais, quase todos relacionados a financiamento e gestão.
esse artigo demoniza os apoiadores de Juca Ferreira e ignora completamente os avanços efetivos que foram dados em sua gestão e do Gil, no sentido da democratização interna da pasta da cultura e da ampliação da escuta dos segmentos culturais e artísticos nacionalmente.
se alguém ficou insatisfeito, foi com a perda dos privilégios garantidos pela antiga política elitista e amiguista (que aliás, está voltando) que sempre teve na cultura uma moeda de troca política e de prestígio, pouco se importando em dar voz, de fato, aos criadores de cultura e arte no país.