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março 1, 2011

Racha agita área de direitos do Minc por Jotabê Medeiros, O Estado de S. Paulo

Racha agita área de direitos do Minc

Matéria de Jotabê Medeiros originalmente publicada no caderno Cultura do jornal O Estado de S. Paulo em 1 de março de 2011.

Servidores ameaçam demitir-se em protesto contra saída de Marcos Souza, da direção de Direitos Intelectuais

Um racha atingiu ontem a Diretoria de Direitos Intelectuais do Ministério da Cultura em Brasília. A internet foi tomada com diversas manifestações de protesto pela exoneração do diretor da área, Marcos Alves de Souza. O imbróglio deve se radicalizar: 16 pessoas ameaçam afastar-se daquele setor do ministério nos próximos dias, segundo informações obtidas pelo Estado.

O Ministério da Cultura ofereceu a Souza, especialista jurídico em direitos de autores e um dos principais consultores do novo anteprojeto da reforma da Lei de Direitos Autorais, a possibilidade de assumir outra função na Diretoria de Direitos Intelectuais, mas ele recusou. Em seu lugar, foi nomeada a advogada carioca Marcia Regina Vicente Barbosa, de 56 anos, que integrou o Conselho Nacional de Direito Autoral (CNDA) entre 1982 a 1990. Advogada da União, Marcia foi integrante da Consultoria Jurídica do Ministério da Cultura, de 2006 a 2010, e integra a Consultoria Geral da União desde maio de 2010.

O setor de direitos intelectuais do ministério foi organizado durante a gestão de Gilberto Gil/Juca Ferreira - a área, desde a extinção do CNDA, no governo Collor, estava praticamente sendo tocada por uma só pessoa no governo federal, de forma precária. Alguns apontam que, por trás da mudança de gestão, está uma clara inclinação da nova gestão pendendo à defesa irrestrita do Escritório Central de Arrecadação e Distribuição de Direitos (Ecad).

Marcia Regina Vicente Barbosa é amiga do advogado Hildebrando Pontes, considerado um defensor extremado das teses do Ecad. Ela foi secretária executiva do CNDA quando Hildebrando Pontes foi presidente.

O motivo da ameaça de demissão coletiva, segundo informaram servidores do MinC, foi a nova orientação dos direitos autorais do ministério, levada adiante pela ministra Ana de Hollanda. Além de resolver revisar o anteprojeto de lei que reforma os direitos autorais, Ana declarou esta semana à revista Isto É que o debate foi insuficiente - o MinC discute a reforma há 3 anos, e fez 80 encontros nacionais, 7 seminários e pesquisas nas legislações de 20 países. Depois disso, o anteprojeto ainda ficou em consulta pública pela internet, que durou 79 dias e recebeu 8.431 sugestões.

Marcos Souza foi um dos principais alvos dos opositores da reforma a partir de 2009, quando vazou o primeiro esboço do anteprojeto de lei dos direitos autorais. Ele se bateu contra associações como a Abramus e a Academia Brasileira de Letras, que não concordam com o texto. Foi o incumbido de separar as contribuições durante a fase de consulta pública, e sempre disse que a ideia não se destinava a "colher manifestações de caráter plebiscitário", mas aperfeiçoar e enriquecer o texto.

A Diretoria de Direitos Intelectuais (DDI) é vinculada à Secretaria de Políticas Culturais (SPC) do Ministério da Cultura. É responsável pela formulação e gestão da política brasileira sobre bens intelectuais no que diz respeito a direitos autorais e conexos. Sua atuação extrapola os limites do País - participa de fóruns mundiais na defesa dos interesses do Brasil, além de assessorar o governo federal na adequação da legislação nacional às convenções e tratados internacionais ratificados pelo País.

Marcos Alves de Souza, que veio do Ministério do Planejamento, não polemizou em sua saída. Localizado ontem pelo Estado, comentou apenas que acha "legítimo" que a nova dirigente do MinC escolha pessoas de sua confiança para cargos de confiança. "É legítimo, da mesma forma que é legítimo que eu não tenha interesse em continuar na equipe da Marcia. Espero continuar ajudando o governo em outro ministério", disse.

ENTENDA A QUESTÃO

Novembro de 2009
Imprensa obtém minuta de
projeto de lei que o MinC pretendia levar ao Congresso

Julho de 2010
Associações como Abramus, Ecad, ABL manifestam desagrado, dizendo que é avanço do Estado sobre direitos privados do autor

Setembro de 2010

MinC acusa opositores do projeto de estarem plantando "sugestões" negativas na internet para desqualificar debate

Janeiro de 2011
Ministra decide retirar selo do Creative Commons do site do MinC, o que provoca milhares de protestos no Brasil e no Exterior

Fevereiro de 2011
Ex-ministro Gil diz que atos da nova gestão são "apressados"

Posted by Cecília Bedê at 5:43 PM | Comentários(1)
Comments

O que vemos aqui é a volta sedenta dos Velhos interesses e das Velhas posturas. Não é possível retomar modelos de controle de direitos autorais que tem mais de 20 anos. O mundo mudou muito e a forma de distribuição do produto cultural também... Foram muitas discussões e debates nestes últimos 7 anos levados por artistas, produtores, intelectuais e outros profissionais das área cultural para pensar políticas para ao setor no Brasil, considerando a circulação da arte de modo mais acessível e democrático num país com tantas deficiências nos seus equipamentos culturais. Tanto movimento não pode morrer na praia... Haverá mais gritaria por aí.

Posted by: daniela labra at março 2, 2011 12:02 PM
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