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fevereiro 11, 2011
Resposta ao desleixo por Ana Magalhães, Cristina Freire e Helouise Costa
Resposta ao desleixo
Mensagem enviada à Folha de São Paulo e ao Canal Contemporâneo por Ana Magalhães, Cristina Freire e Helouise Costa em resposta a matéria Desleixo curatorial afeta mostra sobre acervo pioneiro do MAC na ditadura de Fábio Cypriano publicada pela Folha de São Paulo em 10 de Janeiro de 2011,
A iminente mudança do Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo para a nova sede no Parque do Ibirapuera tem provocado um interesse crescente na mídia. O texto publicado pela Folha em 10/01/11 (“Desleixo curatorial afeta mostra sobre acervo pioneiro do MAC na ditadura”) nos incita a contribuir para que um debate crítico possa de fato ocorrer sem resvalar para julgamentos arbitrários de exposições pontuais.
“Um dia terá que ter terminado, 1969/74” é a segunda de uma série de três exposições que visa investigar a constituição do acervo do Museu de Arte Contemporânea da USP, tendo como foco a arte brasileira produzida durante a ditadura militar (1964-1985). O protagonismo do MAC USP na cena artística contemporânea brasileira é apresentado em documentos e obras. O trabalho pioneiro de Walter Zanini, diretor do MAC USP no período, pode ser acompanhado pelo programa de exposições por ele implementado e que esta mostra busca reavaliar.
Antes de mais nada cabe observar que a falta de contexto reclamada pelo articulista está presente no seu próprio artigo. Sem citar que a mostra faz parte de uma série, monta o seu discurso valendo-se das informações disponibilizadas pela curadoria como se fossem já conhecidas. Além disso, parece que a história da arte contemporânea, que se pauta pela história das exposições, é desconhecida pelo jornalista. Tal abordagem coloca em questão a obra de arte na dinâmica, sempre renovada, de sua apresentação pública, para onde convergem todos os contextos de uma maneira complexa e não linear. Assim, não pensamos em contexto no sentido limitado de “pontuar o que se vivia naquele momento”, como foi reclamado.
O que se apresenta na mostra são traços da trajetória do primeiro museu de arte contemporânea brasileiro na busca de uma autocrítica institucional a partir da história de suas próprias exposições. Nessa medida não basta reafirmar a indiscutível excelência do acervo do MAC USP. É necessário ir além de uma abordagem patrimonialista e estática que reforça a autonomia da obra de arte a exemplo da visão modernista há décadas vigente em nosso meio.
“Um dia terá que ter terminado” não é apenas “uma sucessão de obras na parede”, mas o resultado de um pensamento mais amplo que vem sendo desenvolvido há anos e tornado acessível por meio de edições, livros, exposições, cursos, conferências e disciplinas acadêmicas. Por último, mas não menos importante, vale ressaltar que tal trabalho curatorial vem logrando conferir existência pública a muitas obras que nem mesmo constam no catálogo oficial do Museu.
O caráter opinativo da manchete do texto da Folha desdobra-se diretamente numa conclusão premeditada e autoritária. Sugerir que o MAC USP não terá condições de ocupar a contento a nova sede é no mínimo uma arbitrariedade. Se nas décadas abordadas pelas mostras o enfrentamento do MAC USP era com a truculência do regime ditatorial, hoje fica evidente, tomando como medida o artigo em questão, que os desafios para um museu público de arte e universitário são de outra ordem, mas não menos contundentes.
é importante perceber, através da resposta da curadoria, que os interesses em jogo são sempre mais complexos e obscuros do que aparecem à primeira vista. Não se precipitar em julgamentos, especialmente em temas relativos à nossa história recente: não tenhamos dúvidas de que as forças atuantes durante a ditadura militar continuam presentes e, de maneira mais "sutil", disputando espaços, nem sempre somente ideológicos! Todo apoio ao trabalho das curadoras, sabemos da luta que significa manter e organizar acervos, em espaços públicos, universitários... e dentro de uma visão democrática, que hoje se tenta imprimir, para superar práticas patrimonialistas tão antigas quanto a história do Brasil (e aí discordo que se situam no contexto moderno, suas raízes são mais fundas). No entanto, apoio também a contextualização, pois cada exposição deve ser tomada como algo em sí, destinada a um público que não necessariamente é o mesmo público das outras exposições... é importante o máximo de informação sobre o conjunto das obras apresentadas e seu contexto, inclusive a informação de que a mostra é um segmento de um projeto maior.
Posted by: fabiana eboli santos at fevereiro 15, 2011 11:46 AM