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fevereiro 7, 2011
Mostra reúne artistas do mundo árabe em conflito por Silas Martí, Folha de S. Paulo
Mostra reúne artistas do mundo árabe em conflito
Matéria de Silas Martí originalmente publicada na Ilustrada da Folha de S. Paulo em 5 de fevereiro de 2011.
Miragens, Instituto Tomie Ohtake, São Paulo, de 10/02 a 03/04/2011
Enquanto manifestações de revolta se alastram pelo mundo árabe, da Tunísia ao Iêmen, passando pelo Egito em convulsão, uma coletiva no Instituto Tomie Ohtake, em São Paulo, reúne obras de artistas da zona conflagrada.
No calor dos confrontos na praça Tahrir, a obra de outra artista egípcia ganha uma leitura mais forte na exposição. Susan Hefuna incorpora as venezianas tradicionais das janelas do Cairo, que deixam ver o lado de fora sem deixar o olhar da rua penetrar nos ambientes, para construir suas mensagens.
Escreve, no caso, "art" e "Cairo", coisas que neste momento não parecem andar juntas, com saques ao Museu Egípcio e violência nas ruas, embora seu conterrâneo Khaled Hafez veja ali uma possível revolução cultural.
Nesse jogo de ver sem ser visto, ou dizer o não dito, Hefuna parece ecoar anos de eleições duvidosas e promessas não cumpridas na história recente de seu país.
É o mesmo silêncio violento que a iraniana Shirin Neshat vem denunciando em sua obra. Vencedora do Leão de Ouro na Bienal de Veneza e depois também premiada com o troféu no festival de cinema da cidade, ela está na mostra que será aberta na quarta com cinco fotografias.
Uma delas mostra um revólver com inscrições árabes, outra tem uma espingarda entre os pés de uma mulher, enquanto uma terceira traz o cano de uma arma como se fosse um brinco. É uma violência calada que está ali, algo que só se deixa entrever.
Talvez daí o título da mostra, "Miragens", que tenta reunir a produção contemporânea de um lugar marcado por uma realidade às vezes só insinuada, de camadas do que só parece ser e não é.
Daí também a máquina de escrever do argelino Kamel Yahioui, com balas de revólver no lugar das letras.