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fevereiro 7, 2011
Mostra sugere discussão sobre poder do colecionador por Fabio Cypriano, Folha de S. Paulo
Mostra sugere discussão sobre poder do colecionador
Matéria de Fabio Cypriano originalmente publicada na Ilustrada da Folha de S. Paulo em 07 de fevereiro de 2011
"Das Coisas em Geral" está em cartaz no espaço Coleção Particular, em SP
Aberto há quase um ano, o espaço Coleção Particular, que guarda o acervo do colecionador Oswaldo Costa, apresenta sua terceira mostra, a mais arrojada e provocadora até aqui.
"Das Coisas em Geral", organizada por Costa, reúne obras de 30 artistas de sua coleção, como Andy Warhol e Sherrie Levine, e objetos de sua própria história. Estão lá guitarras em que ele tocou, placas de taekwondo monocromáticas, como as que utilizou quando praticou o esporte, selos com a estampa de seu avô, o ministro e embaixador Oswaldo Aranha (1894-1960), e uma foto de seu pai, o embaixador Sergio Corrêa da Costa, feita pelo fotógrafo Cecil Beaton.
Com isso, Costa fixa um outro patamar para discutir o colecionismo: em vez de tender para o acervo, colocando as obras em primeiro lugar, privilegia a afetividade.
Essa discussão é cabível, ética e esteticamente, num espaço particular como esse, que não usa leis de incentivo.
No entanto, a mostra, que parte da problematização das fronteiras entre arte e não arte, chega a outra questão: o poder do colecionador.
Afinal, a exposição não ocorre em sua casa, mas num espaço com função pública.
Sendo assim, seria correto colocar um tapete com listas ao lado de desenhos similares de Cássio Michalany? Não seria rebaixar o valor de um trabalho com temática construtiva de Geraldo de Barros postá-lo ao lado de mesas de centro com motivos geométricos pregadas na parede? Essas aproximações formais seguem ao longo da exposição, como igualar as garrafas de Coca-Cola da série "Inserções em Circuitos Ideológicos", de Cildo Meireles, a vasos em vidro de Murano.
Mesmo assim, "Das Coisas em Geral" revela-se uma ótima reflexão sobre os limites e a responsabilidade do colecionador sobre as obras que estão sob sua guarda.