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fevereiro 7, 2011
Mestres pirotécnicos por Paula Alzugaray, Istoé
Mestres pirotécnicos
Matéria de Paula Alzugaray originalmente publicada na Istoé em 4 de fevereiro de 2011
Da engenharia popular brasileira à arte cinética de Abraham Palatnik, exposição promove encontro de tecnologias
Máquinas poéticas, Museu Casa do Pontal, Rio de Janeiro de 05/02 a 05/06/2011
Artistas populares costumam se apresentar como mestres, donos de uma inteligência e de uma arte cultivadas sem estudo e sem leitura. O artista contemporâneo, ao contrário, é letrado até em teoria estética. Hoje, grande parte faz pós-graduação. Com o abismo cultural que se costuma cavar entre esses dois mundos, é surpreendente a relação que a antropóloga Angela Mascelani tece entre Abraham Palatnik e os artistas populares Adalton Lopes, Laurentino, Nhô Caboclo e Saúba. Eles foram pipoqueiros, pescadores, motoristas, soldados, engenheiros. Em comum, o gosto por roldanas, motores elétricos, engrenagens, arames, alavancas. “A principal diferença talvez esteja nas histórias mirabolantes que uns aprendem nas escolas e outros no cotidiano. Palatnik e os artistas populares tiveram formações distintas, mas deram um salto para o desconhecido. Eles criaram algo que não existia antes”, afirma Angela.
Em cartaz na Casa do Pontal, “Máquinas poéticas” aproxima as composições abstratas de Palatnik e as encenações animadas de escolas de samba, lutas de Lampião, rodas de ciranda, casas de farinha, jongo, procissões, presépios e circos com os quais os artistas populares costumavam viajar o Brasil, contando histórias para plateias admiradas. Com esse inusitado encontro, os curadores afirmam que Palatnik, além de precursor da arte cinética, é também um mestre dos autômatos. Por que não? Os títeres de Palatnik são, no entanto, composições construídas segundo os padrões da abstração geométrica que vigoraram nos circuitos da arte brasileira nos anos 50.
De Palatnik, cinco “objetos cinéticos”, realizados entre 1951 e 1991, e um “cinecromático”, de 1960, obras que causaram estupor por onde passaram e acabaram por fazer a história da arte brasileira, dividem a cena com objetos tão surpreendentes quanto “Extração de Ouro no Garimpo de Serra Pelada”, de Adalton Fernandes Lopes (1938-2005), que reproduz o cenário da mineração com homens carregando cascalhos. O mítico Nhô Caboclo, falecido em 1976, tem duas peças antológicas na mostra, “Guerreiro Equilibrista” e “Equilibrista com Duas Cabeças”. Laurentino (1937-2009), natural do Paraná, que instalava seus bonecos como “sinaleiros de vento” em seu carrinho de pipoca, terá seu “Índio do Futuro” apresentado após delicado restauro. O único artista popular ainda vivo e em atividade, o pernambucano Saúba, mostra “A Volta do Cangaço”, cujo motor reproduz o tropel de cavalos. As peças de arte popular, todas pertencentes ao acervo do Museu do Pontal, são mostradas após nove anos de restauro.