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janeiro 19, 2011
Retratos da arte quando jovem por Nina Gazire, Istoé
Matéria de Nina Gazire originalmente publicada na Istoé em 14 de janeiro de 2011
O que é ser um artista jovem? É possível pensar em uma produção de arte que seja jovem, independentemente da idade do artista? Essas são algumas das questões que o curador Adriano Casanova propõe no projeto “20 e Poucos Anos”, que entra em sua última semana de exibição na Baró Galeria, em São Paulo. “O objetivo é questionar como uma produção pode ser jovem sem ser determinada pela idade”, diz o curador. As questões colocadas por ele são pertinentes. A exposição identifica artistas que iniciaram suas criações em idade avançada, mas cujos trabalhos apresentam o frescor e as problemáticas típicas de início de carreira. Por outro lado, há artistas de 20 e poucos anos que alcançaram rapidamente a “maturidade”. Seja pela contudência do trabalho, seja pela relativamente imediata assimilação no mercado de arte, caso de Flávia Junqueira, 25 anos, que acaba de sair da faculdade e já é representada por uma grande galeria paulistana, a Zipper.
Discutir essas contendas é algo que não se dá apenas pela escolha dos artistas para a exposição, 12 ao todo, mas que envolve uma reflexão mais ativa. No dia da abertura da mostra, críticos e artistas se propuseram a debater, com o público, os mitos da juventude artística. Outra questão levantada é o peso da tradição da pintura como cânone dentro da arte contemporânea. Exemplo é o trabalho de Fábio Barolli, 30 anos, que resgata o tríptico, estrutura comum dentro da pintura sacra, trazendo-o para um contexto atual, no qual o artista realiza um autorretrato em que aparece mutilado. Já a série “Iconografia do Videogame – Street Fighter vs. Mortal Kombat” (foto), de Danilo Ribeiro, 27 anos, parece fazer um paralelo com a pintura de Diego Velázquez. Ao se autorretratar jogando videogame diante de uma tela pintada, Ribeiro evoca a mesma estratégia praticada pelo mestre espanhol em “Las Meninas”, em 1656: quebrar o espelho que separa a realidade e sua representação. “Aqui a pintura funciona como simulacro. É o jogo que o artista joga consigo mesmo”, diz Casanova, que em 5 de fevereiro inaugura nova etapa do projeto, apresentando obras selecionadas de artistas iniciantes que apresentaram seus portfólios durante os debates de dezembro.