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janeiro 19, 2011
Laura Lima e o antiarquivo por Paula Alzugaray, Istoé
Matéria de Paula Alzugaray originalmente publicada na Istoé em 14 de janeiro de 2011
A criação do mundo e a criação artística são evocadas e desorganizadas em quatro instalações da artista mineira
Laura Lima foi a primeira artista brasileira a vender uma performance: em 1995, “Quadris”, em que duas pessoas encaixadas pelos quadris deslocam-se como um caranguejo pelo espaço, foi adquirida pelo Museu de Arte Moderna de São Paulo. Mas, mesmo catalogada como performance na coleção, a artista rejeita a terminologia. Prefere referir-se a esse núcleo de trabalhos que toma o corpo como matéria, evocando o título da série “Homem=carne/mulher=carne”. Talvez para indicar o desafio de toda arte contemporânea: situar-se no hiato entre as coisas inteligíveis. “Nunca encontrei nenhuma palavra satisfatória. Tenho um glossário interno em minha obra que me serve muito bem”, afirma a artista, que, ao inventar terminologias conceituais, aproxima-se do modus operandi de Helio Oiticica, que sempre rejeitou a palavra instalação para referir-se a seus trabalhos com termos como sistemas espaciais, programas in progress, parangolés etc. As obras em exposição na individual “Grande”, na Casa França-Brasil, no Rio, dão seguimento a essa navegação por territórios ainda não catalogados.
As práticas de arquivamento e de catalogação são colocadas em xeque logo na entrada da exposição. A primeira coisa que o visitante encontra é o Mágico Nu em sua oficina/ateliê. “Este mágico possui as mangas curtas, seus segredos estão expostos, sua oficina-ateliê tem prateleiras ortogonais e caóticas. O mágico faz esculturas incessantemente, organiza e desorganiza a estante constantemente”, conta Laura. O trabalho desse mágico antiarquivista é observado por um casal, aninhado em uma imensa rede de mais de 30 metros. Esse casal compõe a obra “Pelos + Rede”, em que a mulher tem os pelos pubianos alongados e o homem, as sobrancelhas. Seriam eles mais uma obra fictícia desse mago que produz esculturas em um torno de argila? Ou frutos da imaginação de um criador imperfeito?
Não uma, mas muitas histórias são tecidas no passo a passo de cada visitante dentro da exposição. “O narrador dessa história é o deslocamento do espectador no espaço”, diz Laura. “O espectador monta seu próprio arsenal poético.” Essa fábula-exposição culmina em “Baixo”, obra em que uma pessoa está deitada em um lugar com teto rebaixado a 60 cm, e na obra-surpresa “Escolha”, em que o espectador opta se irá entrar em território desconhecido sem nenhuma informação prévia. Onde, eventualmente, poderá ser transformado em mais uma escultura de argila moldada pelo Mágico Nu.
Prezda Paula,
Faltou no seu artigo conferir a informação da data de aquisição da referida performance pelo MAMSP. O museu paulista adquiriu a primeira performance como prêmio aquisição da mostra Panorama da Arte Brasileira de 2001. Insisto nesta correção diante do frequente apagamento desta exposição na recente história da arte contemporânea brasileira. Esta mostra contou com uma curadoria tríplice composta por mim, Ricardo Basbaum e Paulo Reis (de Curitiba).
ricardo resende
Posted by: Ricardo Resende at janeiro 25, 2011 2:08 AM