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janeiro 8, 2011
Sob mesma direção? por Maria Eugênia de Menezes, Estado de S. Paulo
Sob mesma direção?
Entrevista de Maria Eugênia de Menezes publicada originalmente no jornal O Estado de S.Paulo em 5 de janeiro de 2011.
Mantido na Secretaria de Estado da Cultura, Andrea Matarazzo arrisca uma gestão de feições próprias e diz que o Teatro da Dança, principal vitrine da gestão anterior, ainda precisa passar pelo crivo do governador
Ao assumir a Secretaria de Estado da Cultura, em maio de 2010, Andrea Matarazzo vinha com a expectativa de permanecer no posto por pouco mais de sete meses. Sua ambição à época - ao menos a declarada - era fazer uma gestão de continuidade, que levasse adiante os projetos de seu antecessor, João Sayad, hoje à frente da TV Cultura.
Confirmado no cargo pelo governador Geraldo Alckmin, Matarazzo prepara-se, desta feita, para traçar uma política de feições próprias. "É continuidade, sim, mas com um salto", gosta de ressaltar o empresário e ex-ministro, que transita com desenvoltura nas administrações públicas, mas pouca experiência tinha na área cultural.
Em entrevista ao Estado, o secretário falou sobre suas novas propostas. Ressaltou a importância da criação de um sistema estadual de música - que integre as atividades de ensino musical e as orquestras. Advogou uma mudança de rumos para o MIS (Museu da Imagem e do Som). "O museu precisa atrair mais público." E mostrou-se cauteloso na hora de falar sobre o futuro do Complexo Cultural Luz - também conhecido como Teatro da Dança. Maior e mais ambiciosa promessa de seu antecessor, a obra com assinatura dos suíços Herzog & de Meuron parece estar com o destino em suspenso. Orçada em R$ 600 milhões, a proposta ainda precisaria passar pelo crivo da nova administração. "Até pela envergadura do investimento, o projeto precisa agora ser rediscutido. Essa é uma definição a ser tomada pelo governador."
Ajustes à parte, é vultosa a agenda de obras que Matarazzo herdou da gestão anterior. Além da recente abertura da sede da SP Escola de Teatro, na Praça Roosevelt, a pasta deve entregar, nos próximos meses, um novo prédio para o MAC (Museu de Arte Contemporânea) no Ibirapuera, dez Fábricas de Cultura na periferia da capital e o novo Museu da História de São Paulo.
Se as atitudes polêmicas no controle da Subprefeitura da Sé e da Secretaria de Subprefeituras, colaram-lhe a pecha de "higienista", Matarazzo promete agora uma agenda de contornos nitidamente populares. "A cultura da elite está muito bem assistida. O que nós temos que fazer é levar essa mesma qualidade e essa mesma diversidade para todas as camadas da população."
Há sete meses, o senhor assumia a Secretaria da Cultura falando em continuidade, em dar sequência aos projetos lançados pelo secretário João Sayad. Agora, a perspectiva é outra, é a de ficar por quatro anos. A sua postura hoje mudou? Quais são os seus planos?
Ouvi muitos artistas nesse período. É fundamental estar antenado com o que os atores da área cultural têm a dizer e a mostrar. E, certamente, uma das nossas diretrizes será a pulverização da cultura, ajudando os municípios a implantar infraestrutura para receber atividades consistentes e a capacitar agentes culturais. A cultura de elite está bem servida pelo setor privado, com grandes investimentos e atrações de porte. O que o Estado tem que fazer é estimular isso, mas conseguir fazer a mesma coisa para aqueles que não têm acesso. A agenda cultural de São Paulo é imensa, mas muito concentrada. Tenho dois focos importantes: interiorizar a cultura e universalizar a cultura de qualidade, levando-a para quem não tem acesso.
O Complexo Cultural Luz - Teatro da Dança - é um dos maiores projetos da gestão anterior. Qual é a sua situação hoje? O senhor pretende levá-lo adiante?
Até pela envergadura do investimento, o projeto precisa agora ser discutido com o governador. É preciso ver qual é a prioridade do momento.
Mas qual é a sua visão do projeto? O senhor acredita que ele é importante? E qual seria a sua principal função: oferecer novas salas de espetáculo para a cidade? Ou criar uma obra de grande impacto urbanístico?
O impacto do Complexo extrapola o espectro da cultura e pode ser determinante para a região. É um terreno de 20 mil m², com um projeto arquitetônico inovador. A área está sendo reurbanizada e a proposta está muito sintonizada com o projeto Nova Luz da prefeitura. Esse aqui será, em breve, um dos melhores bairros de São Paulo.
Então o projeto será feito?
O timing do projeto será definido de acordo com a prioridade de recursos do Estado. É por isso mesmo que ele foi pensado em módulos. Ele poderia ser feito em três fases, não precisaria se fazer o complexo todo de uma vez.
São Paulo ganhou recentemente museus de grande visibilidade, como o Museu do Futebol. Quais são seus planos para essa área?
Os museus são hoje um grande ativo que o nosso Estado tem. A Pinacoteca, o Museu do Futebol e o Catavento recebem hoje um público consistente. Mas alguns museu precisam ser modernizados. É o caso do Museu de Arte Sacra, que tem um acervo extraordinário, e do Memorial do Imigrante, que está passando por uma reforma. Vamos criar o Museu da História de São Paulo, que vai ser instalado na Casa das Caldeiras com um perfil mais interativo. Agora, o MIS precisa melhorar o seu conteúdo. E existe também o sonho de se fazer o Museu da Televisão, que poderia conviver no mesmo espaço do MIS.
Mas o MIS não seria um museu um pouco mais de vanguarda, voltado justamente às novas mídias, e um museu voltado à televisão não seria algo um pouco mais convencional? O senhor acha que o MIS precisaria rever o seu perfil?
Não está certo que o Museu da Televisão vá para lá. Existem outros lugares. E o MIS deve continuar na vanguarda, mirando as novas mídias, mas precisa ser um pouco mais acessível às pessoas. O museu hoje recebe cerca de 50 mil visitantes por ano. É muito pouco. Nós temos que ofertar mais. Como museu das novas mídias, ele também precisa ser mais interativo e trabalhar à distância.
A previsão é abrir o MAC nesse primeiro semestre? Quais são os planos?
O prédio está praticamente pronto, precisa apenas de alguns ajustes. Mas é necessário que ele funcione ao menos dois meses vazio para testar ar condicionado, umidade. Uma fase de observação antes que as obras de arte sejam instaladas.
O museu, que é da USP, deve crescer bastante e certamente precisará de mais recursos. A secretaria pretende ajudar?
Vamos ajudar, sim. Sem dúvida. O que nós pudermos apoiar, iremos apoiar. Temos trabalhado junto com a USP na viabilização do MAC, que é um museu extraordinariamente importante para a cultura brasileira, certamente o maior acervo de arte moderna da América Latina.
A educação musical foi um dos focos da gestão passada. O que será feito?
Nós integramos as ações naquilo que estamos chamando de sistema paulista de música. É uma sequência de atividades, que permitem, por exemplo, que uma criança que entre no Projeto Guri possa - se tiver talento - vislumbrar um roteiro. Esse sistema ofereceria a ela a chance de continuidade, de se formar no Conservatório de Tatuí ou até de chegar às nossas orquestras. Antes essas instituições não conversavam.
O senhor é um dos quadros mais importantes do PSDB. Podemos esperar que cumpra quatro anos à frente da Secretaria? O senhor tem planos de concorrer à prefeitura?
Na vida pública, você faz as coisas porque tem que fazer. Ficar planejando nunca dá certo. Nesse momento, até pela quantidade de trabalho que tenho aqui, não tenho planos de concorrer.
Em caixa
1 bilhão
de reais é o orçamento do ano da Secretaria
600 milhões
é o custo do Teatro da Dança, projeto mais ambicioso da pasta