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dezembro 15, 2010
Olhar de fotógrafo por Thiago Corrêa, Diario de Pernambuco
Matéria de Silas Martí originalmente publicada na Ilustrada do jornal Folha de S. Paulo em 15 de dezembro de 2010.
Imagens de Lula Cardoso Ayres registram cenas do carnaval e paisagens do Recife
O ano de homenagens pelo centenário de nascimento de Lula Cardoso Ayres ficou restrito ao fim de 2010. A data redonda, que seria propícia para relembrar o legado de um dos nomes mais representativos da arte visual pernambucana, será marcada apenas pela exposição Olhar guardado: fotografias de Lula Cardoso Ayres, cuja abertura acontece hoje, às 19h, no Mamam - Museu de Arte Moderna Aloisio Magalhães (Rua da Aurora, 265, Boa Vista).
A mostra investe num lado pouco conhecido do trabalho de Lula Cardoso Ayres, que além de pintor, ilustrador e designer gráfico, explorou a fotografia como linguagem para desenvolver sua obra. ´A gente achava que a pintura ia ser explorada em outras exposições este ano e queríamos mostrar um lado desconhecido da obra de Lula`, justifica a diretora do Mamam, Beth da Matta. Além das fotografias, a mostra também contará com vídeo produzido pela TV Globo.
A exposição é composta por mais de 90 fotografias selecionadas por Georgia Quintas no acervo da Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj) e noarquivo pessoal de Lula Cardoso Ayres Filho. As fotografias - captadas nas décadas de 1930, 1940 e 1950 com as câmeras Leica e Roleflex - registram manifestações culturais, festas como o carnaval, paisagens do Recife, aspectos arquitetônicos das construções e a degradação do casario da capital.
A série que pertence à Fundaj remete ao ciclo do açúcar e traz imagens do canavial, referentes ao período em que o artista retornou da Europa para administrar o engenho do pai, em Rio Formoso. ´A gente percebe uma preocupação documental, até pela influência da Escola Regionalista por conta da sua proximidade com Gilberto Freyre`, explica Georgia Quintas.
Apesar desse interesse pelo registro, que se refletia no cuidado do artista com a preservação e organização desse material, a curadora ressalta que Lula Cardoso Ayres via a fotografia como uma prática artística.
Segundo Georgia, a preocupação estética do artista com a fotografia aparece no esmero dedicado à técnica e na composição das imagens. ´Se fosse só um esboço, ele não teria tanto cuidado. Como bom pintor, sabia o que funcionava numa cena`, observa a curador. ´Papai esperava a posição certa do Sol para a iluminação ficar do jeito que ele queria e poder fazer a fotografia`, confirma Lula Cardoso Ayres Filho.