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dezembro 14, 2010
O empresário mineiro Bernardo Paz se prepara para ir ao Fórum Mundial de Davos discursar sobre o Instituto Inhotim por Karla Monteiro, Globo.com
Matéria de Karla Monteiro originalmente publicada no segundo caderno do Globo.com em 12 de dezembro de 2010.
O empresário mineiro Bernardo Paz se prepara para ir ao Fórum Mundial de Davos, na Suíça, discursar sobre o Instituto Inhotim, segundo ele ‘a maior obra social que qualquer pessoa no mundo já fez’
BERNARDO PAZ: o mecenas, sócio de mais de 20 empresas de mineração e siderurgia e maior produtor independente de ferro-gusa do país, abriu em 2006 o museu de arte contemporânea com jardins de Burle Marx
Difícil enquadrar Bernardo Paz: postura de monarca e discurso anárquico. O homem intriga. Por um lado, ele é acusado pelo Ministério Público de sonegação de impostos e de receber, através da empresa Horizontes Ltda., dinheiro oriundo de paraísos fiscais. Por outro, ergueu um patrimônio para a Humanidade: Inhotim, o incrível museu de arte contemporânea semeado numa fazenda em Brumadinho, pequena cidade da região metropolitana de Belo Horizonte. O lugar é — de fato — um reino, avaliado em US$200 milhões.
São cem hectares de jardins botânicos com uma imensa coleção de espécies tropicais raras. O paisagista Burle Marx foi amigo de Paz e ajudou a orquestrar tal exuberância. Inhotim abriu as portas em outubro de 2006 e, de lá para cá, só ganha magnitude. Entremeando os jardins e lagos, são 17 pavilhões dedicados à arte contemporânea produzida entre os anos 1960 e hoje. Muitos dos nomes mais importantes estão lá: Tunga, Cildo Meireles, Miguel Rio Branco, Hélio Oiticica, Adriana Varejão (mulher do empresário), Doris Salcedo, Victor Grippo, Matthew Barney, Rivane Neuenschwander, Valeska Soares, Janet Cardiff & George Bures Miller, Doug Aitken. Nesse cenário vive o mecenas. Paz, sócio de mais de 20 empresas de mineração e siderurgia — e o maior produtor independente de ferro-gusa do país —, mora no casarão da fazenda, com Inhotim como quintal.
Na manhã da última quarta-feira, feriado em Belo Horizonte, ele se encontrava na parte externa do restaurante do museu, atrás de cinco caixinhas de água de coco e um maço de cigarros Carlton. Quando começa a falar, a voz é quase inaudível. Em janeiro, Paz vai viajar em missão diplomática. Foi convidado a sentar-se numa das mesas de discussão do Fórum Mundial de Davos, encontro anual que reúne na Suíça líderes da economia, de empresários a presidentes de banco. Está na mesma mesa da presidente do conselho dos museus do Qatar, Sheika Mayassa, e dos artistas plásticos Jeff Koons e Olafur Eliasson. O tema: arte contemporânea e filantropia.
O empresário, irmão do publicitário Cristiano Paz, sócio de Marcos Valério na SMPB, agência envolvida no escândalo do mensalão do PT, é bom de papo. Não tem travas na língua. Gosta de falar, embora raramente conceda entrevistas e não comente nada da vida pessoal ou dos negócios. Paz nunca eleva o tom da voz. Só quando solta um “puta que o pariu” para o celular que toca insistentemente. Entre soberbo e simpático, arrogante e elegante, defende a arte contemporânea como “a mais poderosa organização não governamental”. Diz que Inhotim é um exemplo único de projeto social no mundo. Mete o pau na elite brasileira. E desdenha do encontro em Davos.
BERNARDO PAZ: Tudo o que avança no sentido cultural é importante. Mas eu não gosto de ir a Davos, porque tenho dificuldade de me expressar para pessoas importantes. Elas se julgam tão importantes que não ouvem. O que precisamos é de atitude de quem tem dinheiro. Inhotim é uma fábrica de cidadãos, a maior obra social que qualquer pessoa no mundo já fez. Mas, ao mesmo tempo, não é nada. Bastaria os ricos entenderem que quem está do seu lado é gente. O DNA é o mesmo. Só falta treinamento. Eu quero que Inhotim se transforme em exemplo. Por isso falar em Davos talvez seja interessante. Bater na mesma tecla é bom.
O que o senhor pretende dizer em Davos?
Com sinceridade, eu estou indo para Davos porque me convidaram. Não sei nem quem me convidou. Quando chegar lá, vou olhar para a cara daqueles bundas-moles e mandar todo mundo para a puta que os pariu. E, se encontrar pessoas legais, vou tentar falar alguma coisa. O fórum que importa não é esse. O fórum está no governo de cada país, de cada estado, de cada cidade.
Inhotim é uma obra social?
Sim. É um treinamento. É mais fácil aprender aqui do que com um livro ou numa escola aborrecida. A curiosidade e a vontade de chegar lá vêm do exemplo. As pessoas, quando estão no museu, se sentem estimuladas, orgulhosas, porque entram em contato, se comunicam com gente pretensamente mais educada.
Vamos começar do começo: o senhor iniciou a sua coleção de arte contemporânea em 1980. Como surgiu o interesse pela arte? Comprar arte já era um “projeto social”?
Nunca tive ideologia. Minha filosofia de vida sempre foi humanista. Sempre apostei nisso. As pessoas, de forma geral, juntam um monte de dinheiro. E aí dão dinheiro para a Aids, dão dinheiro para isso, para aquilo... Mas nunca vão ao lugar para ver a cultura da população, para ver o que se pode tirar de proveito das pessoas inteligentes daquela comunidade. O ponto mais importante em qualquer sociedade é o treinamento. E o treinamento não é baseado na educação formal, mas em princípios. Ele traz à tona a curiosidade. A curiosidade talvez seja — e eu acho que é — a forma mais fácil de ensinar. A partir do momento em que você desperta a curiosidade, a pessoa quer saber, quer ir além.
O empresário Bernardo Paz, no seu ultimo relato abordou um tema, muito importante que é sobre a o despertar da curiosidade para que o interesse em aprender seja despertado. Quando ele diz que não sabe o que vai dizer em Davos, ele poderá desenvolver esse tema que é importantíssimo e contar a história desse museu maravilhoso que é único no mundo. E quem sabe todo esse trabalho seja divulgado pelo Brasil para que as pessoas procurem ser mais curiosas e saibam valorizar a arte e a cultura do seu país.
Posted by: carmen at dezembro 16, 2010 5:15 PM