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novembro 17, 2010
Sin perder la ternura por Juliana Dal Piva, Istoé
Matéria de Juliana Dal Piva originalmente publicada na Istoé em 5 de novembro de 2010
Após 30 anos de luta pelos direitos humanos na Argentina, Mães da Praça de Maio lançam memorial e participam da Bienal de São Paulo
Buscarita Roa, Vera Jarach, Estela Carlotto, Lita Boitano e Carmen Lapazo sabem o significado da palavra luta. Conhecidas como as Mães e Avós da Praça de Maio, estas senhoras representam as organizações de direitos humanos na Argentina que pedem, há mais de 30 anos, pela verdade sobre o desaparecimento de quase 30 mil pessoas durante o regime militar (1976-1983). Elas concorreram ao Prêmio Nobel da Paz de 2010, ganho pelo ativista chinês Liu Xiaobo. Aqui, as cinco guerreiras falam de sua mais recente conquista: o Parque da Memória – monumento às vítimas do terrorismo de Estado, localizado na costa norte do rio da Prata, em Buenos Aires. Este é o primeiro projeto do tipo realizado na América do Sul dedicado às vítimas de uma ditadura militar e dele participam inúmeros artistas de diferentes partes do mundo. Na 29ª Bienal de São Paulo, elas apresentam o parque ao público através de um documentário que está em exibição no Terreiro “A Pele do Invisível”.
Como surgiu o “Parque da Memória”?
Carmen Lapazo – Quando acabou a ditadura, começamos a nos dar conta de que nós, as mães, não íamos ficar para sempre, mas algo de nossos filhos desaparecidos tinha que ficar. Não pensávamos que o número chegaria a dez ou 15 mil desaparecidos.
Vera Jarach – Era preciso ter um lugar onde estivessem os nomes de todos os desaparecidos e que fosse associado à arte. E precisava ser próximo ao rio, porque muitos “desaparecidos” terminaram no rio da Prata.
Por que um parque?
Lita Boitano – Houve muita discussão, porque não queríamos a sensação de um cemitério ou de um lugar para onde levar flores. Tinha que ser um lugar para honrar a memória de todos e era importante que estivessem os nomes
de todos, de todo o país.
Estela Carlotto – Não queríamos algo como o Memorial do Holocausto. Tinha que ser uma coisa diferente, aberta e que demonstrasse o espírito de nossos filhos, que eram jovens, alegres e com projetos.
Como escolheram as obras do parque?
Estela Carlotto – Lançamos um concurso internacional em 1998 para buscar obras que significassem o que pensávamos. Foram mais de 600 inscrições de todo o mundo.
Há artistas brasileiros?
Estela Carlotto – Nuno Ramos, mas sua obra ainda não está lá.
Pessoas de diferentes lugares já estiveram lá?
Lita Boitano – Sim. Vieram personalidades de todo o mundo. Saramago chorou ao ver o parque.
Vera Jarach – E agora fomos convidadas pela Bienal de São Paulo. O curador foi e gostou.
As senhoras têm relações com organizações de direitos humanos do Brasil?
Estela Carlotto – Tivemos um contato com uma organização que há 15 anos fechou as portas dizendo que os objetivos pelos quais lutava já não existiam. Na Argentina, somos oito organizações históricas que nunca baixaram os braços. Nem quando chegou a democracia.