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novembro 3, 2010
Mostra de Takashi Murakami em Versalhes irrita conservadores por Silas Martí, Folha de S. Paulo
Matéria de Silas Martí originalmente publicada na Ilustrada da Folha de S. Paulo em 2 de novembro de 2010
Descendentes da família real querem fim de exposições de arte contemporânea no palácio
Depois de Jeff Koons, em 2008, japonês ocupa antiga residência de Luís 14 com obras de apelo alucinógeno e pop
Enquanto não cessa a discussão em torno da mostra de Larry Clark em Paris, o palácio de Versalhes, nos arredores da capital francesa, virou alvo de outros ataques.
Mesmo sem drogas e sexo explícito, obras do japonês Takashi Murakami, de pegada quase alucinógena e excessos pop, desagrada quem prefere ver algo mais clássico nas salas do palácio rococó.
Versalhes recebeu há dois anos uma mostra do norte-americano Jeff Koons, famoso por seus cachorrinhos gigantes, suas obras de claro apelo comercial e também por ter se casado com a estrela pornô italiana Cicciolina.
Na época, Charles-Emmanuel de Bourbon, um dos descendentes da família real francesa, tentou sem sucesso fechar a exposição de Koons.
Agora, o príncipe Sixte-Henri de Bourbon, primo de Charles-Emmanuel, e a Coordenação pela Defesa de Versalhes, grupo ultraconservador, tentam barrar Murakami, a segunda mostra de arte contemporânea a ocupar os salões e aposentos da antiga residência do rei Luís 14.
"Acontece algo muito grave no palácio", diz Arnaud Uinsky, um dos diretores da Coordenação pela Defesa de Versalhes, à Folha. "Nosso governo, que se diz democrático, põe nosso patrimônio cultural a serviço dos estrangeiros, de um artista inimigo da cultura e da civilização."
HIROSHIMA CULTURAL
Nos textos divulgados pelo grupo, Murakami é acusado de não ser autor real de suas obras, feitas com dezenas de assistentes, e de "exorcizar seus fantasmas eróticos" em esculturas. Também lembram a parceria entre o artista e a grife Louis Vuitton.
"Expor Murakami nos apartamentos reais é um verdadeiro Hiroshima para a cultura francesa, isso é a indústria, a publicidade, o marketing", diz Uinsky. "Versalhes está sendo oprimido pelo desvio de poder."
No caso, o grupo contra contemporâneos em Versalhes se opõe ao poder de Jean-Jacques Aillagon, ex-ministro francês da Cultura e hoje à frente do palácio. Desde o início de sua gestão, há três anos, Aillagon vem aumentando o número de visitas aos salões reais com mostras de arte contemporânea.
Segundo Laurent Brunner, diretor de exposições em Versalhes, o público aumentou 45% com a mostra de Murakami, que chega a receber 15 mil visitantes por dia. Em 2008, Jeff Koons levou 1,4 milhão de pessoas ao palácio.
"Há grupos de extrema direita, uns poucos velhos, que tentam impedir as exposições", diz Brunner à Folha. "Mas o moderno tem lugar em Versalhes, que não é mais a residência dos reis, é um palácio vivo."