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outubro 4, 2010
Jardins suspensos por Paula Alzugaray, Istoé
Matéria de Paula Alzugaray originalmente publicada na Istoé em 4 de outubro de 2010
Penetráveis inéditos de Oiticica e projetos artísticos de paisagismo ocupam ruas e parques do Rio e São Paulo
Hélio Oiticica – Museu é o mundo/ Paço Imperial, Casa França-Brasil, MAM-RJ, Praça XV, Praça do Lido, Aterro do Flamengo, Centro Cultural Cartola, Central do Brasil, RJ/ até 21/11 Festival de jardins do MAM no Ibirapuera/ Parque do Ibirapuera, SP/ até 31/12
No campo fértil da arte contemporânea, há sempre um território novo a explorar. Com as primeiras chuvas da primavera, o “Festival de Jardins do MAM no Ibirapuera” coloca no coração verde de São Paulo seis projetos de paisagistas franceses e convida três artistas brasileiros a realizar seus primeiros jardins. O evento é uma parceria com o Festival de Jardins Chaumont-sur-Loire, da França, que se insere entre os mais conceituados eventos do gênero.
Beatriz Milhazes, Ernesto Neto e Pazé são os brasileiros convidados. “São artistas cuja obra me sugeria um diálogo com jardins. A proposta foi retomar a tradição de Burle Marx: um artista versátil que usava o jardim como uma técnica plástica entre outras, como pintura e escultura. Essa seleção marca a continuação de uma tradição de paisagismo brasileiro”, diz Felipe Chaimovich, curador do MAM que, com o festival, dá continuidade a uma linha de mostras com enfoque ecológico.
Mas, como jovens jardineiros, os brasileiros convidados são mesmo ótimos pintores e escultores. No jardim de girassóis de Beatriz Milhazes, não há sombra da exuberante profusão de cores e formas das suas pinturas. Já “Ovogênese”, de Ernesto Neto, é mais tímido que os incríveis jardins de malhas coloridas que compõem sua exposição individual “Dengo”, na Grande Sala do MAM.
No Parque do Ibirapuera, os jardins-instalações confundem-se com os canteiros que Augusto Teixeira Mendes criou na década de 50, com inspiração em Burle Marx. No Rio de Janeiro, situação semelhante acontece com quatro penetráveis inéditos de Hélio Oiticica. A caixa preta no meio da Praça XV chama a atenção de quem passa. “É uma obra de arte...”, começa a explicar a mediadora que permanece no local para acompanhar os visitantes e os transeuntes curiosos “...de Hélio Oiticica, um dos maiores artistas brasileiros”, acrescenta ela. E, por fim: “Essa obra é um penetrável.” A palavra acarreta mais curiosidade ainda. O que seria um “penetrável”? Simples: uma obra na qual o observador pode entrar nela, penetrar.
Desde 11 de setembro, áreas públicas do Rio ganharam ares de museu. A exposição “Hélio Oiticica – Museu é o Mundo” conta com quatro penetráveis que não foram vistos na mesma mostra em São Paulo, em maio. São eles: o “PN 16”, nunca exibido em tamanho natural; “Éden”, conjunto de vários ambientes que integrou a primeira exposição do artista na Whitechapel, em Londres, em 1969; “Mesa de Bilhar – Apropriação d’après O Café Noturno de Van Gogh”, montada pela primeira vez, na Central do Brasil; e o igualmente inédito “Bólide Área Água”, na Praça do Lido. O curador César Oiticica Filho conta que expor os penetráveis em lugares públicos do Rio foi tarefa mais fácil do que em São Paulo, onde não obteve autorização da prefeitura. “Não conseguimos montar na Praça da República, que era o local original do projeto “PN 16”, agora na Praça XV do Rio”, diz. A burocracia também engoliu a obra que o artista goiano Kboco montaria no Festival de Jardins. Segundo o MAM, ele teve seu “Jardim de Skate” vetado pelo órgão de patrimônio responsável pelo Ibirapuera, que considerou que o projeto impermeabilizaria uma grande área de solo do parque. O artista contesta. “A proibição se deve a um boicote aos skatistas. A mesma postura me levou também a modificar meu projeto para a Bienal.” Kboco é o autor do terreiro “Dito, Não Dito, Interdito”, na 29ª Bienal, alvo de pichações no terceiro dia do evento. Título sugestivo para uma obra que, segundo o artista, teria sido cerceada.
Colaborou Luciani Gomes, Rio