|
outubro 1, 2010
Pichador da Bienal diz ser tão marginalizado quanto urubus da obra de Nuno Ramos por Márcia Abos, O Globo
Matéria de Márcia Abos originalmente publicada no Jornal O Globo em 29 de setembro de 2010
Djan Ivson, de 26 anos, assumiu a autoria da pichação 'liberte os urubu' (sic) na obra
"Bandeira branca" de Nuno Ramos na 29 Bienal Internacional de Arte de São Paulo. Djan, conhecido nas
ruas como "Cripta", junto com Raphael Guedes Augustaitiz, o Rafael Pixobomb, de 26 anos, e Choque,
fotógrafo de 23 anos, formam o coletivo que criou a representação do 'pixo' (com 'x', para se diferenciar
da pichação política dos anos 60 e da pichação poética da década de 70) paulistano na própria Bienal.
Djan disse que pichar a obra de Nuno Ramos foi uma decisão individual, não do coletivo. E explicou que fez
uma analogia entre urubus e pichadores, ambos marginalizados.
- Não consegui terminar de escrever a frase, mas pretendia escrever "liberte os urubus e os pixadores de
BH" (cinco pichadores estão presos desde agosto na capital de Minas Gerais, indiciados por formação de
quadrilha). Fiz uma analogia entre os urubus presos na obra e nós, pichadores. Também somos demonizados, enxergamos a cidade do alto dos prédios e sobrevivemos de migalhas da sociedade, assim
como a população da periferia - disse Djan.
Nuno Ramos decidiu não prestar queixa contra Djan, portanto, o pichador está livre e não responderá a
processo. Mas para Djan, a escolha de Nuno é indiferente.
- Não adianta nada não dar queixa e dizer que foi um ato atrasado. Nos menosprezar como pessoas
atrasadas e ignorantes. Atrasado é ele que precisa de animais vivos para fazer uma obra de arte. Queria
entender o mundo dele - disse Djan.
O artista plástico Nuno Ramos afirmou que jamais deu declarações menosprezando os pichadores.
- Não pode pichar uma obra de arte. Não quero ofender ninguém e não acho que é uma questão de classe. Considerei um ato individual totalmente equivocado, tanto dele quando de entidades de ecologia que criaram com desinformação um clima violento ali, o que acabou cooptando o pichador. O ato em si é errado. Mas não estou julgando ninguém por isso, nem o grupo, nem a pessoa - diz Nuno.
Djan contou que foi agredido pelos seguranças da Bienal, que quase o mataram após estrangula-lo por cerca de 30 segundos. O pichador disse não ter morrido graças ao chefe da segurança, que ao perceber que as agressões estavam fora de controle, abriu a porta e ajudou o pichador a fugir. Ele pretende processar os seguranças por lesão corporal.
Para ele, a repressão violenta dos seguranças da Bienal estimulou outra pichação, desta vez na obra dos artistas Kboco e Roberto Loeb, que fica do lado de fora do pavilhão. Um jovem de 18 anos de Osasco, identificado pelo apelido "Invasor", foi o responsável pela pichação. Segundo Djan, Invasor foi ajudá-lo enquanto era agredido por seguranças no sábado e acabou apanhando também.
'Reações desproporcionais'
Os curadores-chefes da Bienal, Agnaldo Farias e Moacir dos Anjos, se reuniram com Djan e Rafael na
tarde de segunda-feira para falar sobre as pichações ocorridas no final de semana.
- O pichador [da obra de Nuno Ramos] foi muito agredido pelos seguranças, o que também foi um abuso.
Foram reações desproporcionais. Uma coisa não justifica a outra. Ele teve uma atitude que aos olhos de
todos foi extemporânea, agressiva. Mas a agressividade para cima dele foi terrível. É constrangedor -
lamentou Farias.
Para Farias, a ação dos pichadores na cidade deve ser discutida, por ser uma manifestação relevante.
- São pessoas que nunca encontraram espaço. Nossa sociedade é muito agressiva, a má distribuição de
renda, a desigualdade provocam ressentimento, ignorância, fomentam ódio. Djan e Rafael são muito talentosos, é preciso reconhecer e construir algo maior. A Bienal sempre foi coisa de elite. Mesmo que oferte seu fino produto para uma elite intelectual, não significa que não esteja aberta e comprometida em fazer chegar este fino produto a um contingente cada vez maior. O dinheiro é grandemente público, portanto a finalidade da Bienal é formadora. Temos que correr estes riscos. Estes gestos não podem servir de desestímulo. Não temos prática de democracia. Gentileza gera gentileza - conclui Farias, citando o Profeta Gentileza, que se tornou conhecido por perpetuar seus pensamentos escrevendo livremente em muros do Rio de Janeiro.
Interessante os rumos que uma obra de arte pode tomar. A pichação se tornou a ar'te/ar'ma dos reprimidos. Os opressores, mandam seus truculentos "cães de guarda", que sem cultura, sem formação e informação e total desprepreparo par lidar com "seres humanos" e "obras de arte" fazem as suas "performances" em nome da ordem. É preciso reavaliar o papel dos "seguranças" no Brasil. Digo isso porque já fui vítima dessa "raça" numa casa noturna de BH, porque reclamei da conta absurda q tive q pagar. Então chamaram um "cão de guarda", que antigamente era "Leão de Chácara" e fui convidado a sair com socos, ponta-pés e sufocamento que até hj me trazem problemas de ordem física e psicologica, mesmo 4 anos depois.
NÃO PRECISAMOS DE CÃES DE GUARDA OU SEGURANÇAS. PRECISAMOS DE SERES HUMANOS CAPAZES DE ENXERGAR QUE O OUTRO É IGUAL A ELE, SOMOS DE CARNE & OSSO, SANGUE E EXCREMENTOS. O que muda é a essência cerebral que seria formada na escola, a qual o "segurança" não teve oportunidade de frequentar, lhe restando "vigiar" o que é do outro, pq não sabe fazer nada além.