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setembro 30, 2010
"Meu sonho é poder ver no Rio uma favela inteira pintada" por Juliana Vaz, Folha de S. Paulo
Matéria de Juliana Vaz originalmente publicada na Ilustrada da Folha de S. Paulo em 30 de setembro de 2010
Artista holandês que coloriu as fachadas de comunidades cariocas participa hoje da Bienal
Em parceria com os próprios moradores das favelas, Dre Urhahn já pintou na Vila Cruzeiro e no morro Dona Marta
Embora não tenha sido escalado para participar da Bienal, o holandês Dre Urhahn é um artista que destoa entre os outros do pavilhão.
Primeiro porque, pintor, foi convidado para falar em uma mostra de arte que privilegia o vídeo e as instalações multimídia.
Segundo porque o seu suporte não são as telas, mas os tijolos das favelas cariocas.
Vindo de Amsterdã, ele desembarcou às pressas, anteontem, em São Paulo. Reclamou do "jet lag" e disse que foi chamado de última hora, para integrar, hoje, uma série de apresentações no Ibirapuera organizada pelo consulado da Holanda (leia programação ao lado).
Ele sabe apenas que o bate-papo deve girar em torno do "Favela Painting", um projeto "um pouco artístico, um pouco político e um pouco social", que vem remodelando as habitações pobres do Rio de Janeiro.
CHUVA E TIROS
Ao lado do conterrâneo Jeroen Koolhaas, 33 -que resolveu ficar em casa depois de quebrar o pé pintando um mural- Dre, 36, já jogou cor nas comunidades cariocas em três ocasiões.
A primeira vez foi em 2007, na Vila Cruzeiro, uma das favelas que integram o Complexo do Alemão (zona norte), onde morou por oito meses. "Nossas principais dificuldades foram a chuva e os tiros", lembra.
Depois de testemunhar três ações do Bope (Batalhão de Operações Policiais Especiais) e sete passagens do "caveirão", o duo deixou estampada sobre um muro a imagem de um garoto soltando pipa. Agradou aos moradores, enquanto os traficantes diziam que ali era "o lugar errado" para a arte.
Um ano mais tarde, na mesma Vila Cruzeiro onde se sentem "em casa", Dre e Jeroen deixaram sua marca em uma escadaria que leva ao topo do morro.
MORADORES
Mas o maior feito do duo, e certamente o mais visado por turistas, foi terminado neste ano, no morro Dona Marta, em Botafogo (zona sul).
Ali, os holandeses imprimiram listras coloridas a 34 casas da comunidade, que em 2008 recebeu a primeira UPP (Unidade de Polícia Pacificadora) do Rio.
Além do patrocínio de uma marca de tintas, tiveram o apoio dos moradores da favela, que receberam instrução para pintar. "A carreira de pintor é um início", afirma Dre, que diz só haver sentido no projeto se acompanhado de melhorias sociais.
A dupla está agora levantando fundos para realizar sua obra-prima: "Eu quero ver uma favela inteira pintada, eu quero ver".