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setembro 30, 2010
Artista reclama de abandono em instalação pichada por Camila Molina, Estadão.com
Matéria de Camila Molina originalmente publicada no Estadão.com em 28 de setembro de 2010
Kboco diz que falta segurança, iluminação e verba da Bienal para atividades no espaço, no qual diz ter investido R$ 100 mil
Instalada do lado de fora do prédio no qual ocorre a 29.ª Bienal de São Paulo, a obra do artista Kboco e do arquiteto Roberto Loeb ainda está com as pichações feitas no sábado à noite ou no domingo por um desconhecido e que trazem, por duas vezes, a inscrição "Invasor". "Para mim não tem diferença entre apagar ou não. Sou vítima não por causa da pichação, mas da produção do evento, que não deixa minha obra acontecer", diz o artista. "Quando fui convidado, esse seria um espaço com uma programação para o povo, com teatro, happening, música."
Kboco reclama da falta de segurança por parte da organização do evento, de iluminação e de verba para as atividades.
É o segundo caso de pichação da 29.ª Bienal, inaugurada no sábado. No dia da abertura, Djan Ivson invadiu a instalação Bandeira Branca de Nuno Ramos, e escreveu a frase "Liberte os urubu" (sic) numa das esculturas da obra. Djan afirma ser o autor da pichação de sábado e nega ser o da obra de Kboco. Ele faz parte do grupo que pichou o prédio da Bienal em 2008, na edição anterior do evento, e que desta vez está representado na mostra no segmento "Pixação SP", com fotografias e vídeos sobre a ação de pichadores.
Kboco, que é grafiteiro e usa a técnica em sua criação, diz ter comunicado no domingo aos curadores da Bienal sobre a pichação em sua obra e que até ontem não havia tido uma conversa com os responsáveis pelo evento. Sua obra, o "terreiro" da Bienal Dito, Não Dito, Interdito é um dos seis espaços criados por artistas e arquitetos e que vão abrigar, até 12 de dezembro, atividades diversas para o público da mostra. Segundo Kboco, gastou-se R$ 100 mil para a construção de seu trabalho com Loeb (o espaço, pelo projeto inicial, poderia ser um local para skatistas).
"A obra de Kboco não está abandonada", afirmou o curador da Bienal, Moacir dos Anjos. "Estamos estudando entre hoje e amanhã que forma o trabalho dele pode ser melhor integrado à exposição. Não existe uma programação tão intensa como outros terreiros, até por ser um espaço em lado externo."
"Lamentamos que sua obra tenha sido pichada e é uma decisão que vai caber ao artista se seu trabalho vai ser restaurado", disse o curador. Kboco afirma que sua posição é apagar as pichações de seu trabalho, mas que pretende esperar uma postura dos organizadores da 29.ª Bienal.
TRÊS PERGUNTAS PARA...
Djan Ivson, PICHADOR E PARTICIPANTE DA BIENAL
1. Por que fez a pichação na obra de Nuno Ramos?
Fiz o ataque por questão da liberdade, contra o aprisionamento dos bichos e pela liberdade de expressão. A frase (pichada na obra, "Liberte os urubu (sic)") não foi completa.
2. Qual seria?
Liberte os urubus e os pichadores de BH. Foi a questão da polêmica da obra e dos nossos amigos. Quis fazer uma reclamação sobre esses assuntos (segundo ele, "Os Piores de Belô" foram presos em agosto).
3. Sua pichação foi uma manifestação contra a forma de a Bienal expor o gênero, com fotos e vídeos?
Escolhemos expor a pichação na Bienal dessa forma. Não tinha nada a ver alguém dar uma parede para a gente pichar. [ ]