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setembro 27, 2010
Surto político por Silas Martí, Folha de S. Paulo
Matéria de Silas Martí originalmente publicada na Ilustrada da Folha de S. Paulo em 25 de setembro de 2010
Caso de censura de obra a favor do PT e acusação da OAB de apologia ao terrorismo turbinam início, hoje, da 29ª Bienal
Quando armar uma fogueira com barras de gelo no gramado do Ibirapuera hoje de manhã, o artista Paulo Bruscky vai resumir de forma sutil um debate que incendeia esta Bienal de São Paulo, aberta agora ao público.
São labaredas congeladas que desaparecem com o tempo, marcando sem gritos a forte tensão entre estética e suas dimensões políticas.
Em situação mais nervosa, a 29ª Bienal, que discute a natureza política da arte, teve uma obra censurada após um alerta da Justiça Eleitoral e um pedido da Ordem dos Advogados do Brasil para a remoção de outra peça.
Roberto Jacoby, artista argentino que fez em pleno pavilhão uma espécie de campanha por Dilma Rousseff, candidata petista à Presidência, teve o trabalho tapado.
Segundo a Procuradoria Regional Eleitoral, é proibido fazer campanha em prédios públicos e em eventos que recebem dinheiro do governo, caso da Bienal de São Paulo.
"Não se pode fazer política na Bienal de política", disse Jacoby no dia em que cobriram seu trabalho. "Talvez a Bienal devesse falar de decoração, seria mais sincero."
Outro artista, Gil Vicente, mostra uma série de autorretratos em que aparece assassinando líderes políticos e religiosos, entre eles o presidente Lula e George Bush.
"Minha questão era muito direta, era expurgar a raiva que tinha", diz Vicente. "Não entendo de arte e também não leio nada sobre arte."
No caso, a OAB de São Paulo acusou o artista de fazer apologia ao terrorismo.
É uma discussão que ronda até agora só a casca polêmica dessas obras, mas turbinou o debate sobre o que significa arte política hoje.
Passada essa barreira do óbvio, outros artistas, que por enquanto chamaram menos a atenção, mostram que política se traduz em estética de outros modos.
"É óbvio para qualquer débil mental que um desenho numa Bienal não incita o terrorismo", diz Nuno Ramos, artista que montou um viveiro de urubus no vão central do pavilhão de Niemeyer.
"Mas há obras políticas explícitas que preservam a ambiguidade", afirma. "A questão é um pouco o quanto a obra consegue e quanto uma obra deve ser ambígua."
Seus urubus enjaulados, que voam ao som de "Bandeira Branca" e "Carcará", não apontam armas nem enfiam a faca na garganta do presidente, mas parecem fazer críticas numa frequência um tanto mais discreta.